Saturday, August 23, 2014

Holandês devolve condecoração do Holocausto depois de familiares morrerem em Gaza

Seis palestinianos da família alargada de Zanoli morreram no final de julho depois de um ataque de Israel. O holandês escondeu e protegeu um rapaz judeu durante a II Guerra Mundial.
Henk Zanoli, 91 anos, dirigiu-se à embaixada israelita em Haia na quinta-feira para devolver a medalha que em 2011 lhe foi entregue pelas autoridades de Israel, declarando que o nome de Zanoli ficaria inscrito na lista dos “Justos entre as Nações”, reservada aos gentios que salvaram judeus durante o Holocausto. Fê-lo depois de seis familiares terem sido mortos em Gaza.

Em 1943, Henk Zanoli levou Elchanan Pinto, um rapaz judeu de 11 anos, de Amesterdão para a vila de Eemnes. Foi aí que a família Zanoli escondeu a criança durante dois anos, até ao fim da II Guerra Mundial, em 1945, quando se soube que todos os familiares de Elchanan tinham morrido nos campos de extermínio. Durante a ocupação da Holanda, os Zanoli estiveram debaixo de olho dos Nazis por se oporem à presença alemã . Dois anos antes, o pai de Henk tinha sido enviado para o campo de concentração de Dachau, acabando por morrer no campo de Mauthausen, em fevereiro de 1945. Henk Zanoli tinha também um cunhado que foi executado por pertencer à resistência holandesa e um irmão cuja noiva judia foi assassinada pelos nazis.

Mais de 70 anos depois, um ataque aéreo israelita atingiu uma casa na Faixa de Gaza que pertencia à família alargada de Zanoli. A sobrinha-neta deste é casada com um economista palestiniano, Ismail Ziadah. No dia 20 de julho, Ziadah perdeu três irmãos, uma cunhada, um sobrinho e a primeira mulher do pai.

“A minha mãe e a minha família arriscaram as vidas a lutar contra a ocupação alemã”, escreve Hanoli na carta que endereçou ao embaixador israelita na Holanda, descrevendo a história de resistência durante o conflito e informando-o da devolução da medalha. “Dada esta história, é particularmente chocante e trágico que hoje, quatro gerações depois, a nossa família tenha de enfrentar o homicídio da nossa descendência em Gaza. Homicídio esse conduzido pelo Estado de Israel”, continuou.

A história foi revelada pelo jornal israelita Haaretz e depois disso, o New York Times entrevistou Henk Zanoli, que admitiu ter-se tornado progressivamente mais crítico do Estado de Israel. Ao jornal norte-americano, Zanoli disse que o seu sentimento para com a política israelita não é anti-semita, mas está de acordo com os mesmos princípios humanitários que o levaram a condenar o Holocausto e a apoiar a criação do estado judaico em 1948. Apesar do seu descontentamento, Zanoli disse que nunca tinha criticado publicamente Israel até ouvir as notícias da morte de familiares em Gaza. “Devolvi a minha medalha por não concordar com o que Israel está a fazer à minha família e aos palestinianos em geral”, disse Zanoli ao New York Times, acrescentando que a decisão constituiu uma tomada de posição “contra o Estado de Israel, mas não contra o povo israelita”.

A devolução da medalha não tem de ser definitiva. Zanoli disse ao New York Times que aceitaria a condecoração de volta se a situação mudasse em Israel. “A única forma de o povo judeu de Israel sair da situação em que se colocou é garantir a todos os que ali vivem os mesmos direitos e oportunidades a nível político, social e económico”. Se isso acontecer, diz, “entrem em contacto comigo ou com os meus descendentes”.

Fonte: http://observador.pt/2014/08/16/holandes-devolve-condecoracao-holocausto-depois-de-familiares-morrerem-em-gaza/

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