JERUSALÉM - Operários árabes israelenses engajados na construção de uma nova ala do Parlamento do Estado judeu tiveram seus capacetes marcados com tinta vermelha para ajudar os agentes de segurança a distingui-los dos trabalhadores estrangeiros, confirmaram funcionários da assembléia ontem.
O líder parlamentar Reuven Rivlin ordenou que os operários árabes israelenses deixassem de ser marcados depois de tomar conhecimento do fato ao ler uma reportagem do jornal "Maariv".
Em sua edição de ontem, o diário publicou uma fotografia de cinco operários com capacetes, três deles marcados. Dois tinham uma simples linha vermelha desenhada no capacete. Os outros três tinham um enorme "X" marcado em vermelho.
De acordo com o jornal israelense, o departamento de segurança do Knesset pediu a implementação da medida para ajudar a diferenciar os árabes israelenses dos demais operários e poder acompanhar a movimentação deles com mais facilidade.
As instruções foram seguidas apesar de uma investigação ter mostrado que muitos desses operários não têm problemas com a justiça. Em uma reportagem a ser publicada pelo "Maariv" em sua edição de sexta-feira, o jornal citará fontes para informar que o "X" é utilizado para facilitar a mira de franco-atiradores israelenses posicionados no teto do Parlamento caso ocorra algum distúrbio ou ataque.
Ahmed Tibi, um parlamentar árabe, denunciou a distinção como racismo. "Os judeus sabem quem foi marcado", lembrou ele em uma aparente referência às estrelas de Davi pintadas em amarelo nas roupas dos judeus à mercê do regime nazista.
Cerca de 180 operários trabalham na construção da nova ala do Knesset, o Parlamento israelense. Os trabalhadores estrangeiros, alguns deles do leste da Ásia e outros do leste europeu, não são considerados uma "ameaça à segurança de Israel".
Giora Pordes, porta-voz do Knesset, disse que os trabalhadores árabes que não foram submetidos a uma profunda investigação de segurança tiveram os capacetes marcados. Segundo ele, os árabes sem problemas com as forças de segurança usavam capacetes simples, sem a distinção.
Pordes disse que as marcas tinham como objetivo "permitir que os árabes começassem a trabalhar imediatamente", sem a necessidade de esperar por três ou quatro meses até a conclusão das investigações.
"Se alguém não gostou, nada podemos fazer além de pedir desculpas, mas não era essa a intenção. O fato é que nenhum operário reclamou sentir-se ofendido com a medida", comentou.
Entretanto, ele admitiu que o departamento de segurança do Knesset pediu à empresa contratada para a construção que distinguisse os árabes israelenses dos demais operários.
Irritado, Rivlin disse que a prática é inaceitável. "Não podemos permitir o uso de nenhum marca que possa ser vista como uma diferenciação entre as pessoas com base em raça, etnia ou religião", denunciou o líder parlamentar.
Tribuna da Imprensa, 10/03/04
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