19 de Janeiro de 2005
A "justificativa conservadora" para o colapso de uniões do mesmo sexo
by Stanley Kurtz
02/02/2004, Volume 009, Issue 20
O CASAMENTO ESTÁ EM MORTE LENTA NA ESCANDINÁVIA. A maioria das crianças na Suécia e na Noruega nasce fora do casamento.
Sessenta por cento dos primogênitos na Dinamarca eram de pais não casados. Sem coincidência, esses países tiveram algo em comum: a união gay por uma década ou mais.
União do mesmo sexo encerrou e reforçou uma tendência Escandinava rumo à separação de casamento e paternidade. O modelo da família nórdica –incluindo união gay – está se espalhando pela Europa.
E olhando com atenção, nós podemos responder a questão empírica chave que dá sustento ao debate da união gay. União do mesmo sexo mina a instituição do casamento? Já minou.
Mais precisamente, já minou a instituição. A separação do casamento da paternidade estava aumentando; a união gay ampliou a separação.
Nascimentos fora do casamento estavam crescendo; a união gay acrescentou às causas um empurrão para majorar essas taxas. Em vez de encorajar um amplo retorno da sociedade ao casamento, a união gay escandinava tem convencido a mensagem que o casamento em si está ultrapassado, e virtualmente qualquer forma de família, incluindo paternidade fora do casamento, como aceitável.
.... A dissolução da família escandinava só tem se agravado. Entre 1990 e 2000, a taxa de natalidade de fora do casamento na Noruega aumentou de 39 para 50 por cento, enquanto a da Suécia foi de 47 para 55 por cento. Na Dinamarca, os nascimentos fora do casamento ficaram nivelados durante os anos 90 (começando em 46 por cento e terminando em 45 por cento).
Mas a estabilidade parece funcionar como um leve aumento na fertilidade entre casais mais velhos, que se casam somente depois de múltiplas proles (se eles não se separarem primeiro). Esse movimento disfarça os 25 por cento de aumento durante os anos noventa na coabitação e na paternidade fora do casamento entre os casais dinamarqueses (muitos deles jovens). Cerca de 60 por cento das crianças nascidas na Dinamarca hoje são de pais não casados. O aumento das famílias frágeis baseadas na coabitação e da concepção fora do casamento significa que, durante os anos noventa, a taxa total de dissolução familiar na Escandinávia aumentou significantemente.
E hoje, que a paternidade do casamento se tornou um fenômeno minoritário, ele perdeu a massa crítica requerida a impor uma força socialmente normativa. Como os sociólogos dinamarqueses Wehner, Kambskard e Abrahamson descrevem, no rastro das mudanças dos anos noventa, "o casamento não é mais uma pré-condição para estabelecer uma família – nem legalmente nem normativamente. . . . O que define e torna o fundamento da família dinamarquesa pode ser dito por ter movido o casamento à paternidade."
Assim, a altamente conceituada análise de meia página de um jornal não publicado, que supostamente ajuda a validar a "justificativa conservadora" para a união gay --p.e., que encorajará união estável para heterossexuais e homossexuais da mesma forma—não faz tal coisa. O casamento na Escandinávia está em profundo declínio, com as crianças suportando o peso de maiores taxas de dissolução familiar. E o motivo principal do declínio –uma progressivamente mais aguda separação entre casamento e paternidade– pode ser vinculada à união gay. Para visualizar isso, nós precisamos entender por quê o casamento está problemático na Escandinávia, para início de conversa.
A ESCANDINÁVIA tem liderado por longo tempo mudanças na família. Estudiosos tomam a experiência sueca como um protótipo para desenvolvimentos familiares que podem, ou poderiam, desenvolver-se por todo o mundo. Então vamos dar uma olhada no declínio do casamento sueco...
Na Suécia, como em todo lugar, os anos sessenta trouxeram contracepção, aborto, e individualismo crescente. O sexo era separado da procriação, reduzindo a necessidade para "casamentos relâmpagos".
Essas mudanças, junto com o movimento de mulheres como força de trabalho, possibilitaram e encorajaram as pessoas a se casarem muitos anos depois. Com os casais adiando a paternidade, divórcios precoces tiveram menores conseqüências para as crianças. Isso enfraqueceu o tabu contra o divórcio. Posto que jovens casais estavam adiando as crianças, o próximo passo era dispensar o casamento e a coabitação até que as crianças fossem desejadas. Os norte-americanos viveram toda essa transformação. Os suecos simplesmente adiantaram-se a essa conclusão final: Se nós chegamos até aqui sem casamento, por que casar? Nosso amor é o que importa, não um pedaço de papel. Por que as crianças deveriam mudar isso?
Duas coisas estimularam os suecos a dar esse passo extra –o Estado de bem-estar e as atitudes culturais. Nenhuma economia Ocidental tem uma percentagem maior de empregos públicos, despesas públicas –ou impostos mais altos –do que a Suécia. O Estado de bem-estar sueco desalojou a família com provedora. Pela garantia de empregos e rendimento a todo cidadão (mesmo crianças), o Estado de bem-estar torna cada indivíduo independente. É mais fácil se divorciar de seu esposo quando o Estado lhe apoiará em seu lugar.
Os impostos necessários para sustentar o Estado de bem-estar têm tido um impacto enorme na família. Com as taxas tão altas, as mulheres devem trabalhar. Isso reduz o tempo disponível para educação infantil, encorajando assim a expansão de um sistema de cuidado diário que toma uma parte maior em educar quase todas as crianças suecas por volta de um ano. Eis pelo menos uma realização parcial do sonho de Simone de Beauvoir de uma androgenia forçada que empurra as mulheres de casa voltando as crianças para o Estado.
Ainda que o Estado de bem-estar sueco possa encorajar o tradicionalismo em um ponto, as gravidezes isoladas de adolescentes que são comuns nas classes mais baixas da Inglaterra e dos EUA são raras na Suécia, que não tem nenhuma classe baixa para falar a respeito. Mesmo quando casais suecos dão a luz a uma criança fora do casamento, eles tendem a morar juntos quando a criança nasce. A coação do Estado, forte para o apoio a criança, é um outro fator desencorajando maternidade solteira em adolescentes. Não importa as causas, o desencorajamento da maternidade solteira é um efeito de curto-prazo. Ultimamente, mães e pais podem avançar financeiramente sozinhos. Assim, as crianças que nascem fora do casamento são criadas, inicialmente, por dois pais coabitantes, muitos dos quais posteriormente se separam.
Há também causas ideológico-culturais do declínio da família sueca. Muito mais do que nos EUA, as idéias do feminismo e socialismo radical penetram nas universidades e mídia. Muitos dos cientistas sociais Escandinavos vêem o casamento como uma barreira à total igualdade dos sexos, e não ficariam tristes em ver o casamento ser trocado por uma coabitação de não casados.
Um agente cultural-ideológico relacionado de declínio marital é o secularismo. A Suécia é provavelmente o país mais secular do mundo. Os cientistas sociais seculares (a maioria dos quais totalmente radical) se colocaram no lugar dos clérigos como árbitros da moralidade pública. Os suecos até vinculam o declínio do casamento ao secularismo. E muitos estudos confirmam isso, por todo o Ocidente, a religiosidade é correlacionada com a fraqueza do casamento. Os estudiosos sugeriram durante muito tempo que a relativa diminuição da cristianização dos paises nórdicos explica bastante o porquê do declínio do casamento na Escandinávia estar uma década a frente do resto do Ocidente.
...O DECLÍNIO DO CASAMENTO e o aumento da coabitação instável e dos nascimentos fora do casamento não estão confinados à Escandinávia. O Estado de bem-estar Escandinavo agrava esses problemas. Todavia, nenhuma das forças debilitadoras do casamento são únicas na região. A contracepção, o aborto, as mulheres no mercado de trabalho, a dispersão do secularismo, o individualismo ascendente, e um substancial Estado de bem-estar são encontrados em todos países Ocidentais. Isso porque o padrão nórdico está em expansão.
Apesar disso, o padrão está em dispersão de forma irregular. E os estudiosos acreditam que a tradição cultural representa um papel central na determinação se um dado país siga rumo ao sistema familiar nórdico. A religião é uma variável chave. Um estudo de 2002 pelo Max Planck Institute, por exemplo, concluiu que países com as mais baixas taxas de dissolução familiar e nascimentos fora do casamento são "mais fortemente dominadas pela confissão Católica". O mesmo estudo descobriu que em países com altos níveis de dissolução familiar, a religião em geral, e o catolicismo em particular, tem pouca influência.
A demógrafa britânica Kathleen Kiernan, a autoridade reconhecida em difusão de coabitação e nascimentos fora do casamento por toda Europa, divide o continente em três zonas. Os países nórdicos são os líderes em coabitação e nascimentos fora do casamento. Eles são seguidos por um grupo intermediário que inclui a Holanda, a Bélgica, Grã-Bretanha e a Alemanha. Até recentemente, a França era um membro desse grupo intermediário, mas o aumento da taxa de nascimentos fora do casamento na França moveu-se ao nível da categoria nórdica. As taxas de coabitação norte-americanas e de nascimento fora do casamento colocaram os Estados Unidos e o Canadá nesse grupo intermediário. Mais resistentes à coabitação, dissolução familiar e nascimentos fora do casamento são os países do sul da Europa: Espanha, Portugal, Itália e Grécia, e, até recentemente, Suiça e Irlanda. (O crescimento da taxa de natalidade fora do casamento empurrou-os justamente para o grupo intermediário.)
Esses três agrupamentos trilham intimamente o movimento para a união gay. No começo dos anos noventa, a união gay chegou até os países nórdicos, onde a taxa de natalidade fora do casamento já era alta. Dez anos mais tarde, as taxas de natalidades fora do casamento aumentaram significantemente no grupo intermediário de nações. Não sem coincidência, quase todo país desse grupo intermediário ou legalizou recentemente alguma forma de união gay ou está seriamente considerando fazer isso. Só no grupo com baixas taxas de natalidade fora do casamento o movimento de união gay alcançou relativamente pouco suecesso.
Isso sugere que a união gay é tanto um efeito quanto uma causa da crescente separação entre casamento e paternidade. Conforme as crescentes taxas de natalidade disassociam o casamento da paternidade, a união gay se torna concebível. Se o casamento é só a respeito de uma relação entre duas pessoas, e não está intrinsecamente conectado à paternidade, por que aos pares do mesmo sexo não deveria ser permitido casarem-se? Segue-se que uma vez que o casamento seja redefinido para acomodar pares do mesmo sexo, essa mudança não pode ajudar, mas trancar e reforçar a profunda separação cultural entre casamento e paternidade, que torna a união gay concebível.
Nós vemos esse processo em trabalho na separação radical do casamento da paternidade que se alastrava pela Escandinávia nos anos noventa. Se as taxas de natalidade Escandinávia já não tinham sido altas no final dos anos oitenta, com a união gay teria sido bem mais difícil de se imaginar. Mais de uma década depois da Escandinávia pós-união gay, taxas de natalidade fora do casamento passaram para 50 por cento, e o efetivo fim do casamento como um escudo protetor para as crianças, tornou-se pensável. A união gay não bloqueou a separação do casamento da paternidade; avançou-a.
NÓS VEMOS ISSO mais claramente na Noruega. Em 1989, uns dois anos depois que a Suécia quebrou fundamentos oferecendo pares gays como primeiro pacote de parceria doméstica na Europa, a Dinamarca legalizou de fato a união gay. Isso suscitou um debate na Noruega (tradicionalmente mais conservadora do que tanto a Suécia como a Dinamarca), que legalizou de fato a união gay em 1993. (Suécia expandiu seus pacotes de benefício à união gay em 1994.) Na liberal Dinamarca, onde taxas de natalidade fora do casamento já estavam muito altas, o público favoreceu a união do mesmo sexo. Mas, na Noruega, onde as taxas de natalidadem era mais baixas --e a religião tradicionalmente mais forte--a união gay foi imposta contra o desejo do público pela elite política.
O debate da união gay na Noruega, que correu mais intensamente de 1991 até 1993, foi um evento de mudança cultural. E uma vez decretada, a união gay teve um impacto decididamente não conservador no contexto cultural da Noruega, enfraquecendo os defensores do casamento, e colocando uma arma nas mãos daqueles que procuram substituir casamento pela coabitação. Desde a sua adoção, a união gay trouxe divisão e declínio à igreja luterana da Noruega. Ao mesmo tempo, o rápido aumento da taxa de natalidade fora do casamento na Noruega ultrapassou a da Dinamarca. Particularmente na Noruega --uma vez relativamente conservadora--a união gay minou o casamento institucional para todos.
A igreja estatal luterana da Noruega rachou com o conflito na década desde a aprovação de fato da união gay, com a ordenação de parceiros registrados com conseqüências das mais desagregadoras. As agonias da igreja foram intensivamente cobertas pela mídia norueguesa, que tem aproveitado toda oportunidade para pintar a igreja como inflexível e dividida. Os anos noventa começaram com o controle conservador dos clérigos. Pelo fim da década, os liberais tomaram as rédeas.
Enquanto as disputas mais públicas dos anos noventa foram sobre a homossexualidade, a igreja luterana da Noruega ficou também dividida sobre a questão da coabitação heterossexual. Diretamente questionados, clérigos liberais e conservadores, da mesma forma, expressam uma preferência pelo casamento sobre a coabitação-especialmente para casais com crianças. Na prática, porém, clérigos conservadores expressam-se contra a tendência rumo à coabitação não casada e nascimento, enquanto os liberais concordam.
Essa divisão sobre coabitação heterossexual irrompeu-se ao abrir do ano de 2000, com o nível de divisão da igreja sobre parcerias gays, quando o Príncipe Haakon, herdeiro do trono da Noruega, começou a viver com sua amante, uma mãe solteira. Desde o início do controverso relacionamento do príncipe até sua eventual culminação em casamento, o futuro chefe da igreja estatal norueguesa recebeu sinais de apoio público ou compreensão dos mesmos bispos que estavam liderando a luta para permitir a ordenação de parceiros homossexuais.
Assim, em vez de fortalecer o casamento norueguês face ao aumento da coabitação e do nascimento fora do casamento, a união do mesmo sexo teve efeito oposto. A união gay diminuiu a autoridade da igreja quebrando-a em facções conflitantes e fornecendo à mídia secular ocasiões de mofação e de divisões expostas. A união gay também elevou a facção minoritária abertamente rebelde da igreja à visibilidade nacional, permitindo aos noruegueses sentir que sua tendência à paternidade unmarried, se não totalmente aprovada pela igreja, era pelo menos não fortemente condenada. Se a "justificativa conservadora" para a união gay tivesse sido válida, os clérigos que eram defensores da união gay teriam adotao uma forte posição pública contra a paternidade heterossexual não casada. Isso não aconteceu. Foi o clero conservador que criticou o príncipe, enquanto os liberais defensores da união gay toleraram suas decisões. A mensagem não foi perdida entre os noruegueses comuns, que continuaram sua luta pela paternidade não-casada.
A união gay é tanto um efeito e uma causa para reforçar a separação do casamento da paternidade. Em estados como Suécia e Dinamarca, onde as taxas de natalidade fora do casamento já eram muito altas, e o público favorecia a união gay, as uniões gays estavam em efeito de mais precoces mudanças. Uma vez estabelecida, a união gay ratificava simbolicamente a separação do casamento da paternidade. E uma vez estabelecida, a união gay se torna um dos vários fatores que contribuem para a seguir elevar a coabitação e as taxas de natalidade fora do casamento, assim como para o divórcio precoce. Mas na Noruega, onde as taxas de natalidade fora do casamento eram mais baixas, a religião mais forte, e o público se opunha às uniões do mesmo sexo, a união gay teve mesmo um papel bem maior em precipitar o declínio marital.
A POSIÇÃO DA SUÉCIA como a líder mundial em declínio familiar está associada com um clero fraco, e a predominância de cientistas sociais de tendências seculares e de esquerda. Nos anos noventa pós-gay, conforme uma vez a relativamente baixa taxa de natalidade fora do casamento da Noruega estava subindo a níveis sem precedentes, e como a controvérsia da união gay enfraquecia e dividia a uma vez respeitada igreja estatal luterana, os cientistas sociais seculares tomaram o palco central.
Kari Moxnes, uma socióloga feminista especializada em divórcio, é uma das mais importantes do mais novo grupo de cientistas sociais públicos emergentes da Noruega. Como uma estudiosa que vê tanto o casamento e a maternidade caseira como inerentemente opressivas às mulheres, Moxnes é uma proponente da coabitação e paternidade não-marital. Em 1993, enquanto a legislação norueguesa estava debatendo a união gay, Moxnes publicou um artigo, "Det tomme ekteskap" ("Casamento Vazio"), no influente jornal liberal Dagbladet. Ela argumentou que a união gay norueguesa era um sinal do crescente esvaziamento do casamento, não sua força. Embora, Moxnes tenha falado em favor da união gay, ela tratou sua criação como o anúncio de uma morte (bem-vinda) para o próprio casamento. Moxnes identificou os homossexuais--com sua experiência em relacionamentos formados sem sobrecargas de crianças--como pioneiros sociais na separação do casamento da paternidade. Em reconhecimento aos relacionamentos homossexuais, Moxnes disse que a sociedade estava ratificando a divisão do casamento da paternidade que tinha estimulado o início do crescimento dos nascimentos fora do casamento.
Uma presença freqüente de público, Moxnes curtiu seu grande momento em 1999, quando ela ficou perturbada em uma disputa com Valgerd Svarstad Haugland, ministra dos negócios das crianças e da família no governo democrata-cristão da Noruega. Moxnes criticou os cursos de casamento cristão por ensinarem às crianças a importância de promessas de casamento. Isso produziu uma aguda censura pública de Haugland. Respondendo às críticas de Haugland, Moxnes invocou as famílias homossexuais como prova de que os "relacionamentos" eram agora mais importantes do que o casamento institucional.
Isso não é o que os proponentes da justificativa conservadora para a união gay tinham em mente. Na Noruega, a união gay tem dado munição àqueles que desejam pôr um fim no casamento. E o firme aumento da taxa de natalidade fora do casamento na Noruega durante os anos noventa prova que os opositores do casamento estão se sucedendo. Nem é Kari Moxnes um caso isolado.
Meses antes de Moxnes confrontar-se com Haugland, o historiador social Kari Melby sustentou uma bastante pública querela com um líder do Partido Democrata Cristão sobre a conduta da ministra da energia da Noruega, Marit Arnstad. Arnstad ficou grávida em serviço e rejeitou dar o nome do pai. Melby defendeu Arnstad, e desafiou publicamente a afirmação que as crianças ficam melhor tanto com uma mãe e um pai. Para mostrar seu caso, Melby elogiou a paternidade gay, junto com a voluntária maternidade solteira, como igualmente alternativas dignas à família tradicional. Assim, em vez de registrar que uma mãe esperançosa devesse querer seguir o exemplo do casamento que até os gays estavam agora se ajustando, Melby invocou as famílias homossexuais como prova que uma criança pode ficar bem tanto com um pai quanto com dois.
Finalmente, considere um caso que fez até mais notícia na Noruega, aquele da estrela de handball Mia Hundvin (sim, talentos em handball fazem sucesso na Noruega). Hundvin tinha ficado em uma parceria gay registrada com a ex-atleta de handball Camilla Andersen. Atualmente, porém, tendo anunciado publicamente sua bissexualidade, Hundvin está vinculada com o snowboarder norueguês Terje Haakonsen. Inspirado pelo seu tempo com o filho de Haakonsen, Hundvin decidiu ter um filho. O pai do filho de Hundvin pode bem ser Haakonsen, mas nem Hundvin nem Haakonsen dizem isso.
Hundvin se divorciou de sua parceira registrada antes de decidir se tornar uma mãe solteira pelo (provavelmente) seu novo namorado? A história no principal jornal da Noruega, Aftenposten, não faz menção a ambos. Depois de registrar que Hundvin e Andersen eram parceiros registrados, o jornal simplesmene diz que as duas mulheres não estão mais "romanticamente envolvidas". Hundvin tinha ficado com Haakonsen por volta de apenas um ano. Ela obviamente decidiu se tornar uma mãe solteira sem se incomodar em pensar se ela e Haakonsen deveriam se casar um dia. Nem Hundvin pareceu considerar que sua afeição pelo filho de Haakonsen (também aparentemente nasceu fora do casamento) deveria ser melhor expresso em casar-se com Haakonsen e se tornar filho de sua nova mãe.
Certamente, você pode assinalar mais que um pouco dessa saga para a cultura da celebridade. Mas a cultura da celebridade é tanto um produto quanto uma influência às mais amplas culturas que lhes dão aumento. Claramente, a idéia de paternidade aqui foi radicalmente individualizada, e totalmente desvinculada do casamento. Parcerias registradas reforçaram tendências existentes. A imprensa trata as parcerias gays mais como relacionamentos do que como casamentos. A mensagem simbólica das parcerias registradas --para cientistas sociais, jogadores de handball e, igualmente, bispos--era que a maior parte das famílias não-tradicionais vão muito bem. A união gay serviu para validar a crença que a escolha individual vence a forma familiar.
A experiência Escandinava refuta a assim-denominada justificativa conservadora para a união gay em mais do que uma direção. Digno de nota também é o leque de um movimento rumo ao casamento e a monogamia entre os gays. Taxas recolhidas sobre união gay são excessivamente pequenas. William Eskridge da Universidade de Yale conheceu isso quando relatou em 2000 que 2,372 parceiros tinham se registrado depois de nove anos da lei dinamarquesa, 674 depois de quatro anos da lei norueguesa, e 749 depois de quatro anos da lei sueca.
O teórico social dinamarquês Henning Bech e o sociólogo norueguês Rune Halvorsen oferecem excelentes relatos de debates de união gay na Dinamarca e na Noruega. Apesar do liberalismo social reinante nesses países, os propósitos para reconhecer as uniões gays geraram tremenda controvérsia, e remodelaram o significado do casamento nos anos desde então. Tanto Bech quanto Halvorsen enfatizam que a justificativa conservadora para a união gay, enquanto propulsionada por poucos, foi rejeitada por muitos na comunidade gay. Bech, talvez o mais importante pensador gay da Escandinavia, recusa como uma exigência “inaceitável” a idéia que a união gay promova a monogamia. Ele trata a "justificativa conservadora" como algo que serviu principalmente a propósitos táticos durante um debate político difícil. De acordo com Halvorsen, muitos dos gays noruegueses impuseram auto-censura durante o debate de casamento, de forma a esconder sua oposição ao próprio casamento. O objetivo dos movimentos de união gay tanto na Noruega quanto na Denmark, declaram Halvorsen e Bech, não era o casamento, mas aprovação social da homossexualidade. Halvorsen sugere que os baixos números de parceiros gays registrados podem ser entendidos como um protesto coletivo contra as expectativas (presumivelmente, monogamia) incorporadas no casamento.
DESDE A LIBERAÇÃO DO DIVÓRCIO nas primeiras décadas do século vinte, os países nórdicos têm diso os principais guardiões de mudança marital. Debruçando-se na experiência sueca, Kathleen Kiernan, o demógrafo britânico, usa um modelo de quatro estágios através do qual mede um movimento nacional rumo aos níveis suecos de nascimentos fora do casamento.
No estágio um, a coabitação é vista como um desvio ou uma prática de vanguarda, e a vasta maioria da população produz crianças no casamento. A Itália está nesse primeiro estágio. No segundo estágio, a coabitação serve como um período de teste antes do casamento, e é geralmente uma fase sem crianças. Agrupando o problema da paternidade solteira nas classes mais baixas, a América está grandemente em seu segundo estágio. No estágio três, a coabitação se torna crescentemente aceitável, e a parentela não é mais automaticamente associada com o casamento. A Noruega estava em seu terceiro estágio, mas com as recentes mudanças demográficas e legais entrou no estágio quatro. No quarto estágio (Suécia e Dinamarca), o casamento e a coabitação se tornam praticamente indistingüíveis, com muitas, talvez até mais, crianças nascidas e educadas fora do casamento. De acordo com Kiernan, esses estágios podem variar em duração, apesar disso, uma vez um país tenha atingido um estágio, retornar a uma fase anterior não é razoável. (Ela não oferece quaisquer exemplos de reversão de estágio.) Ainda que uma vez um estágio tenha sido alcançado, as fases anteriores coexistem.
As forças empurrando as nações rumo ao modelo nórdico são quase universais. Verdade, preservando as distinções legais entre o casamento e a coabitação, reinantes do estado de bem-estar, e preservando pelo mesno alguns valores tradicionais, um dado país deveria evitar ou prevenir a normalização da paternidade não-marital. Mesmo assim, todo país Ocidental está suscetível à influência do modelo Nórdico. Nem o catolicismo garante imunidade. A Irlanda, talvez por causa de sua proximidade geográfica, lingüística e cultural a Inglaterra, está sofrendo agora de taxas de natalidade fora do casamento bem excessivas do restante da Europa Católica. Sem considerar um movimento inevitável, Kiernan maravilha-se abertamente quanto a América pode resistir às influências dos estágios três e quatro.
Embora a Suécia lidere o mundo em declínio familiar, os Estados Unidos é candidato. Suecos se casam menos, e dão a luz a mais crianças fora do casamento do qualquer outra nação industrializada. Mas norte-americanos lideram o mundo em paternidade solteira e divórcio. Se nós agruparmos a crise de paternidade solteira entre os Afro-americanos, a pintura é um pouco diferente. Até mesmo entre brancos não-hispânicos, a taxa de divórcio norte-americana é extremamente alta pelos padrões mundiais.
A mistura norte-americana do tradicionalismo da família e instabilidade familiar é pouco comum. Em comparação à Europa, os norte-americanos são mais religiosos e mais aptos a voltarem-se à família do que o estado por um amplo arranjo de necessidades --de cuidados com a criança, a apoio financeiro, a cuidado com os idosos. Até o individualismo norte-americano desdobra-se em dois caminhos. Nosso libertarianismo cultural protege a família como um castelo contra o estado, ainda que também desgarre indivíduos da família. O perigo que nós encaramos é uma combinação da taxa de divórcio da América com o instável estilo Escandinavo de paternidade fora do casamento. Com uma tendência crescente para casais coabitantes que tenham crianças fora do casamento, a América está direcionada nessa direção.
Jovens americanos são mais passíveis em favorecer união gay do que os mais velhos. Esse fato freqüentemente notado está diretamente relacionado a outro. Menos da metade dos jovens de vinte anos da América consideram errado criar crianças fora do casamento. Há uma tendência crescente até mesmo a casais coabitantes de classe média terem crianças sem se casarem.
Todavia, embora a paternidade coabitante esteja crescendo na América, os níveis aqui estão ainda bem baixos daqueles da Europa. A situação da América não é distinta da Noruega no início dos anos noventa, com a religiosidade relativamente forte, a taxa de natalidade fora do casamento ainda relativamente baixa (já crescente), e o público oposto à união gay. Se, como na Noruega, a união gay fosse imposta aqui por uma elite cultural socialmente liberal, seria bem parecido a nos dirigir velozmente rumo ao padrão clássico nórdico de menos freqüente casamento, mais freqüente natalidade fora do casamento, e dissolução familiar atmosférica.
No contexto norte-americano, isso seria um desastre. Além das crescentes taxas de dissolução de famílias de classe média, uma posterior separação do casamento da paternidade reverteria o saudável afastamento da paternidade solteira que nós temos começado a ver desde a reforma do bem-estar. E o declínio da família em todas as classes traria intensa pressão para uma expansão do estado norte-americano de bem-estar.
Tudo isso está acontecendo na Grã-Bretanha. Com o padrão nórdico difundido pela Europa, a taxa de natalidade fora do casamento da Grã-Bretanha cresceu a 40 por cento. A maior parte desse crescimento está entre casais coabitantes. Agora mesmo um significante número de nascimentos fora do casamento na Grã-Bretanha está restrito a mães adolescentes. Essa é uma função das divisões de classe da Grã-Bretanha. Lembre que embora o estado de bem-estar Escandinavo encoraje a dissolução familiar em longo prazo, no curto prazo, os pais Escandinavos que dão a luz fora do casamento tendem a permanecer juntos. Mas devido à presença de uma substancial classe baixa na Grã-Bretanha, a difusão da coabitação nórdica tem remetido a isoladas taxas de paternidade de adolescentes. Como taxas de paternidade solteira e dissolução familiar na Grã-Bretanha têm aumentado, assim há pressão para expandir o estado de bem-estar para se compensar pela ajuda econômica que as famílias não possam mais prover. Mas, obviamente, uma expansão do estado de bem-estar só aferrolharia o enfraquecimento do sistema familiar da Grã-Bretanha.
Se a América está para evitar ser forçada a uma escolha similar, nós teremos que resistir à separação do casamento da paternidade. Até mesmo agora nós estamos sendo empurrados na direção dos Escandinavos. Estimulados pelas crescentes taxas de paternidade não casada, o influente American Law Institute (ALI) propôs uma série de reformas legais ("Princípios da Dissolução Familiar") designado a equalizar casamento e coabitação. A adoção dos princípios da ALI seria um gigante passo rumo ao sistema Escandinavo.
OS NORTE-AMERICANOS tomam isso como condição que, a despeito de seus problemas recentes, o casamento sempre existirá. Isso é um problema. O casamento está desaparecendo na Escandinávia, e as forças determinando isso estão ativas por todo o Ocidente. Talvez o sinal mais perturbador para o futuro seja o colapso da tendência Escandinava em casar depois do segundo filho. No começo dos anos noventa, 60 por cento dos pais noruegueses não-casados que viviam juntos tinham somente um filho. Por volta de 2001, 56 por cento dos não-casados, pais coabitantes na Noruega tiveram dois ou mais filhos. Isso sugere que algum dia, os pais Escandinavos deveriam simplesmente parar de se casarem, não importa quantos fihos venham a ter.
A morte do casamento não é inevitável. Em um dado país, as decisões de políticas públicas e valores culturais poderiam vagar, e talvez estacionar o processo de declínio marital. Nem estamos diante de uma escolha de tudo ou nada entre o sistema marital, quer dizer, os anos 50 e o desaparecimento do casamento. O modelo de Kiernan apresenta pontos de parada. Assim, revogar o divórcio desmotivado, ou mesmo eliminar a coabitação pré-marital, não é o que está em questão. Com o divórcio desmotivado, os norte-americanos alienaram uma certa estabilidade marital que reserva às crianças maior liberdade diante dos adultos. Ainda que nós possamos aceitar essa alienação, enquanto ainda tracem uma linha na descendência a um sistema de estilo Nórdico. E a coabitação como uma fase de teste pré-marital não é o mesmo que a paternidade não casada. Potencialmente, pode ser pensada uma linha entre os dois.
Os desenvolvimentos na última metade do século certamente enfraqueceram os vínculos entre o casamento norte-americano e a paternidade. Mesmo a um grau extraordinário, os norte-americanos ainda tomam-na como condição de que os pais deveriam se casar. A Escandinávia nos choca. Ademais, quem pode negar que o casamento gay nos acostumará a uma maior separação do casamento e paternidade no estilo Escandinavo? E com nossa classe baixa, as patologias sociais que isso produz na América estão obrigadas a ser mais severas do que elas já são em riqueza e na socialmente homogênea Escandinávia.
Todas essas considerações sugerem que o debate da união gay na América é tão importante para se mergulhar. Kiernan sustenta que, conforme as sociedades progressivamente desnvinculam o casamento da paternidade, o estágio reverso é impossível. Isso faz sentido. A associação entre o casamento e paternidade é parcialmente uma mística. Místicas desencantadas não podem ser restauradas por exigência.
E a respeito de uma colcha de retalhos em que alguns estados norte-americanos têm uniões gays e outros não? Uma colcha de retalhos estado por estado praticamente garantiria uma substituição rumo ao sistema familiar nórdico. Livros e televisão, que não respeitam limites de estado, abraçariam a união gay. Os efeitos culturais seriam nacionais.
E a respeito do estilo Vermont de uniões civis? Seria isso um compromisso executável? Claramente não. Parceiros escandinavos registrados são o estilo Vermont de uniões civis. Eles não são chamados casados, ainda que pareçam casamento em quase tudo. As diferenças-chave são que parcerias registradas não permitem adoção ou inseminação artificial, e não podem ser celebradas em igrejas afiliadas ao estado. Essas limitações estão sendo gradualmente revogadas. A lição da experiência Escandinava é que mesmo as uniões de fato do mesmo sexo minam o casamento.
O exemplo Escandinavo também prova que a união gay não é casamento inter-racial em uma nova aparência. A analogia da miscigenação nunca foi convincente. Há abundância de razões para pensar que, em contraste com a raça, a orientação sexual terá profundos efeitos no casamento. Mas, com a Escandinávia, nós estamos bem além do reino de regular especulaçao educativa. As mudanças da união pós-gay na família Escandinava são significantes. Isso não é como a fantasia a respeito dos defeitos de natalidade inter-raciais. Há um sério debate acadêmico a respeito da difusão do padrão nórdico de família. Visto que a união gay é uma parte daquele padrão, necessita ser parte daquele debate.
Conservadores defensores da união gay querem testá-la em uns poucos estados. A implicação é que o experimento deveria ir mal, nós podemos cancelá-lo. Mesmo os efeitos, mesmo em poucos estados norte-americanos, não serão nem contidos nem revogáveis. Levou cerca de 15 anos depois da mudança que golpeou a Suécia para as taxas de natalidade fora do casamento da Dinamarca começarem a se mover dos níveis "Europeu" ao "Nórdico". Levou outros 15 anos (e o advento da união gay) para a taxa de natalidade fora do casamento da Noruega lançar para trás mesmo a da Dinamarca. Pelo tempo nós vemos que os efeitos da união gay na América serão também atrasados para fazer qualquer coisa a respeito. Mesmo nós não precisamos esperar muito tempo. Com efeito, a Escandinávia tem cumprido uma experiência para nós. Os resultados estão aí.
Stanley Kurtz é um pesquisador da Hoover Institution. Seu "Por além da União Gay" apareceu em nossa publicação de 4 de Agosto de 2003...
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