Stalin, respondendo com muita rapidez às solicitações dos Aliados, constrangidos pela presença de soldados russos no corpo da Wehrmacht, decidiu pedir o repatriamento de todos os russos que se encontrassem na zona ocidental. Não houve qualquer problema na satisfação desse pedido. Desde o fim de outubro de 1944 até janeiro de 1945, mais de 332.000 prisioneiros (dos quais 1.179 de São Francisco) foram repatriados, contra a sua vontade, para a União Soviética. Os diplomatas britânicos e americanos não só não tinham quaisquer problemas de consciência relativamente a essa atitude, como falavam a respeito dela com uma certa dose de cinismo, pois não ignoravam, como Mr. Anthony Eden, que seria preciso o uso da força para “resolver” a questão.
Por ocasião das negociações de Yalta (5 a 12 de fevereiro de 1945), os três protagonistas (soviéticos, ingleses e americanos) concluíram acordos secretos que incluíam tanto os soldados como os civis deslocados. Churchill e Eden aceitaram que Stalin decidisse a sorte dos prisioneiros que haviam combatido nas fileiras do Exército Russo de Libertação (ROA), comandados pelo general Vlassov, como se esses homens pudessem se beneficiar de um julgamento minimamente justo.
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Assinados os acordos de Yalta, não foi preciso uma semana para que vários comboios partissem em direção à URSS. Em dois meses, de maio a julho de 1945, foram “repatriados” mais de 1.300.000 indivíduos que se encontravam nas zonas ocidentais de ocupação e que Moscou considerava soviéticos (estavam incluídos os bálticos, anexados em 1940, e os ucranianos). No final de agosto, mais de dois milhões desses “russos” haviam sido “devolvidos”. Por vezes em condições atrozes: os suicídios individuais ou coletivos (famílias inteiras) e as mutilações tornaram-se freqüentes; no momento de serem entregues às autoridades soviéticas, os prisioneiros tentaram inutilmente opor uma resistência passiva, e os anglo-americanos não hesitaram em recorrer à força para satisfazer as exigências soviéticas. Logo durante a chegada, os repatriados ficavam sob o controle da polícia política. No próprio dia em que o Almanzora chegou a Odessa, em 18 de abril, houve várias execuções sumárias. O mesmo aconteceu quando Empire Pride aportou no Mar Negro.
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Os protestos contra essa política foram tardios e suficientemente raros pra que tivesse algum destaque o que apareceu publicado, no verão de 1947, na revista socialista Masses: “Que o Gengis Khan no poder feche hermeticamente as fronteiras para os seus escravos, podemos perceber sem dificuldade. Mas que tenha o direito de extraditá-los de territórios estrangeiros, isso ultrapassa até a nossa moral depravada do pós-guerra. [...] Em nome de que esse direito moral ou político se pode obrigar alguém a viver num país onde lhe será imposta a escravidão corporal e moral? Que retribuição o mundo espera de Stalin para ficar mudo diante dos gritos dos cidadãos russos que preferem matar-se a regressar ao seu país?
Os redatores dessa revista denunciavam expulsões recentes: “Encorajados pela indiferença criminosa das massas em face da violação do direito mínimo de asilo, as autoridades militares inglesas na Itália acabam de cometer um ato inqualificável: em 8 de maio, retiraram 175 russos do campo nº 7 de Ruccione, para que fossem supostamente enviados para a Escócia, além de dez pessoas no campo nº 6 (esse campo continha famílias inteiras). Quando essas 185 pessoas já estavam longe dos campos, retiraram-lhes todos os objetos que pudessem ajudá-los a cometer suicídio e foi-lhes dito que, na realidade, não iriam para a Escócia, mas para a Rússia. Mesmo assim, alguns conseguiram suicidar-se.
(O Livro Negro do Comunismo, pp. 378-380)
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