Saturday, January 14, 2006

Judas, o "mal compreendido"

The Times 12 de Janeiro de 2006

Judas, o Mal compreendido
De Richard Owen, em Roma

Vaticano se mobiliza para absolver o insultado nome do discípulo

A JUDAS ISCARIOTES, o discípulo que traiu Jesus com um beijo, está para ser preparada uma remodelação pelos estudiosos do Vaticano.

A proposta “reabilitação” do homem que pagou 30 peças de prata para identificar Jesus aos soldados Romanos no Jardim de Getsemani [NT: Há um erro aqui, pois, conforme as Escrituras, Jesus foi detido por “um bando armado de espadas e cacetes, enviado pelos sumos sacerdotes, escribas e anciãos” e não por soldados romanos (Mc.14. 43)], sustenta-se na tese que ele não foi deliberadamente mau, mas estava apenas “cumprindo sua parte no plano de Deus”.

Os Cristãos têm culpado tradicionalmente Judas por ajudar e cooperar com a Crucifixão, e seu nome é sinônimo de traição. De acordo com São Lucas, Judas estava “possuído por Satã”.

Agora, uma campanha liderada por Monsenhor Walter Brandmuller, chefe do Comitê Pontifício pela Ciência Histórica, está dirigido a persuadir os crentes a olharem gentilmente para um homem ofendido por 2000 anos.

Msr Brandmuller contou aos seus companheiros estudiosos que já é tempo para uma “releitura” da história de Judas. Ele é apoiado por Vittorio Messori, um importante escritor católico íntimo tanto ao papa Bento XVI e o último João Paulo II.

Monsenhor Messori disse que a reabilitação de Judas “resolveria o problema de um aparente leque de misericórdia por Jesus rumo a um de seus mais íntimos colaboradores”.

Ele contou a La Stampa que houve uma tradição Cristã que cria que Judas fosse perdoado por Jesus e ordenado a purificar-se com “exercícios espirituais” no deserto.

Em círculos de estudiosos, tem saído de moda demonizar Judas e Católicos na Grã-Bretanha estão passíveis a saudar a reabilitação de Judas.

Padre Allen Morris, secretário da Vida e Adoração Cristã pelos Bispos Católicos da Inglaterra e Gales, disse: “Se Cristo morreu por todos — é possível que Judas também tenha sido redimido através do Mestre que ele traiu?” A “reabilitação” de Judas poderia ajudar o impulso para aperfeiçoar as relações Judaico-Cristãs, que tornou-se uma prioridade desse pontificado.

Alguns experts na Bíblia dizem que Judas foi “uma vítima de um líbelo teológico que ajudou a criar o anti-semitismo” através de uma formação de uma imagem dele como um “vilão sinistro” preparado para trair por dinheiro.

Em muitas peças e pinturas medievais Judas é retratado com um nariz fisgado e com feições exageradamente semíticas. No Inferno de Dante, Judas é relegado ao buraco sujo do Inferno, onde ele é devorado por um demônio de três cabeças.

O movimento para reabilitar o nome de Judas coincide com os planos para publicar o alegado Evangelho de Judas pela primeira vez em Inglês, Alemão e Francês. Embora não escrito por Judas, é dito refletir a crença entre os Cristãos primitivos — ganhando agora base no Vaticano — que por trair Cristo, Judas estava cumprindo uma missão divina, que levaria à prisão e crucifixão e, por conseguinte, à salvação do homem.

Msr Brandmuller afirmou que ele supunha “nenhuma nova evidência histórica” do suposto evangelho, que foi excluído do cânon da Escritura aceita.

Mas poderia “servir para reconstruir os eventos e contexto dos ensinamentos de Cristo conforme eles eram vistos pelos cristãos primitivos”. Isso inclui que Jesus exigia sempre o “perdão pelos inimigos de alguém”.

Alguns estudiosos do Vaticano expressam preocupação a respeito da reconsideração de Judas. Monsenhor Giovanni D’Ercole, um teólogo do Vaticano, disse que era “perigoso reavaliar Judas e enlamear os relatos do Evangelho por referência a escritos apócrifos. Isso só pode criar confusão nos crentes.” Os Evangelhos contam como Judas posteriormente retornou as 30 peças de prata — seu “dinheiro do sangue” — e se enforcou, de acordo com os Atos dos Apóstolos, “precipitou-se e arrebentou-se de forma que todas suas tripas viessem pra fora”.

Alguns relatos sugerem que ele agiu sem decepção que Jesus não era um revolucionário cuja intenção era causar a queda da ocupação romana e estabelecer o “Reino de Deus na Terra”.

Nos relatos do Evangelho, Jesus revela aos discípulos na Última Ceia que algum deles o trairia, mas não diz qual. Ele acrescenta “Ai daquele homem por quem o Filho do Homem seja traído” Seria preferível que esse homem não tivesse nascido.”

Mas ele também — de acordo com São Mateus — reconheceu que Judas teve uma função divina para cumprir, dizendo a ele durante a prisão, “Amigo, o que tiver que fazer, faça” e acrescentando “as profecias das Escrituras devem ser cumpridas”.

O “Evangelho de Judas”, um papiro gasto e esfarrapado de 62 páginas, foi encontrado no Egito meio século atrás e posteriormente vendido aos comerciantes de antiguidades a Mecenas Fundação em Basiléia, Suíça.

ZOMBARIA DOS TEMPOS

· No Inferno de Dante, Judas é relegado ao mais baixo buraco do inferno, onde ele é devorado, primeiro a cabeça, por um demônio de três cabeças com asas de morcego
· No filme mudo de Cecil B. DeMille de 1927 O Rei dos Reis, a atração de Judas por Maria Madalena e o resultante ciúme contribui para sua traição a Jesus
· O musical de Tim Rice e Andrew Lloyd-Webber’s Jesus Christ Superstar descreve Judas como um desiludido, caráter colérico. Na versão do filme de 1973 film version, ele é apresentado como mais vítima do que vilão
· O filme de Mel Gibson Paixão de Cristo mostra Judas perseguido por crianças de rua como demônios que remete-o para morte no meio de um mar de insetos e vermes.
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