“A
perspectiva desse autor é claramente evolucionista e, até certo ponto,
fatalista. Para ele, a moderna sociedade
‘aberta’ – a grande sociedade -, liberal, capitalista e democrática, representa
o ápice da evolução histórica e cultural.
É patente a presença, nesse enfoque, de uma ‘metafísica do progresso’
que, entre outras características, encara a história humana como um processo
evolutivo único e com um destino preordenado (Gray, 2011).
(...)
O esquema evolucionista de Hayek reflete-se em sua visão do homem. O homem é tomado como um mero produto da evolução biológica e cultural. Cada homem é apenas uma etapa na evolução história e social. O que caracteriza o homem não é sua racionalidade e espiritualidade, conforme a concepção clássica aristotélica e cristã, mas sua capacidade de evoluir e substituir as respostas inatas por normas apreendidas. (...) Por conseqüência, a dimensão espiritual e metafísica do homem é negada. O economista austríaco não reconhece nada que tenha relação com a essência do homem. A individualidade humana resultaria da ação de forças naturais e sociais imanentes; o sobrenatural e o transcendente são deixados de lado. O fim do homem é a sociedade entendida biologicamente como a ‘produção de outros seres vivos, o crescimento e desenvolvimento da espécie humana em uma ordem extensa’ (Argandoña, 1999). Dessa maneira, a realização humana, a ‘felicidade’ entendida na acepção tradicional e o sentido da vida são noções inexistentes na especulação de Hayek.
(...)
Conforme assevera Antonio Argandoña Rámiz (1999), quando Hayek ressalta a importância e o valor dos hábitos e normas morais tradicionais, fá-lo de maneira conseqüêncialista e utilitarista, destacando os efeitos e resultados positivos que, resumidamente, possibilitam o sustento de uma população em crescimento com um nível de vida mais elevado. É um critério, vale ressaltar, estritamente econômico, que nada tem de ético. (...) Portanto, não apresentam um valor universal e intrínseco, sua função fundamental é servir de suporte à ordem do mercado, gerando um elevado volume de informação e recursos. O pensamento de Hayek está fortemente impregnado de um prisma funcionalista. Uma prática, instituição ou norma parece ser boa, positiva e legítima quando cumpre uma função social e evolutiva na ordem extensa: principalmente, é funcional quando serve ao mercado”
(...)
“Grosso modo, Hayek concebe a religião como um produto social evolutivo, em oposição à concepção tradicional que entende a religião como uma revelação divina, uma instituição de origem sobrenatural. É preciso lembrar que Hayek era agnóstico, sua visão de mundo é inegavelmente naturalista e imanentista. Para esse autor, a ordem natural não se fundamenta em Deus, não é uma ordem criada por uma inteligência espiritual, mas uma ordem que emerge com o passar do tempo, de uma maneira espontânea, é, em suma, uma ordem endógena e autogerada.
(...)
Em Hayek e em outros próceres do liberalismo, o mercado desempenha uma função mítica. A fé na emancipação total da humanidade através das forças do mercado é uma ilusão, uma utopia, A realidade histórica demonstra que não há um único exemplo de que um mercado absolutamente livre produz automaticamente uma melhor satisfação das necessidades dos indivíduos.”
(JR. RANQUETAT, Cesar, “Da Direita Moderna à
Direita Tradicional”, Ed. Danúbio, 2019, pp. 147-150)
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