Saturday, March 03, 2018

Catecismo de uma Revolução

por Pat Buchanan

O que essa nova religião, essa nova fé que veio nas asas da revolução, abraça e ensina? Em quê ela difere da antiga?

Primeiro, essa nova fé é do e para nosso mundo apenas.  Ela se recusa a reconhecer qualquer ordem moral ou autoridade mais elevada. Quanto ao próximo mundo, ela entrega-se com felicidade ao Cristianismo e as crenças tradicionais, contanto que eles fiquem fora da esfera pública e das escolas públicas.  Quanto aos antigos relatos bíblicos da criação, Adão e Eva, a serpente no jardim, pecado original, a expulsão do Éden, Moisés no Monte Sinai e os Dez Mandamentos sendo escritos em pedra e obrigando a todos os homens – acreditem aqueles que desejarem, mas nunca novamente sendo ensinados como verdades. Como verdade, as descobertas por Darwin e confirmadas pela ciência, é que nossa espécie e o mundo são resultados extraordinários das eras de evolução. "A ciência afirma que a espécie humana é uma emergência das forces evolucionárias naturais", declara o Segundo Manifesto Humanista, escrito em 1973.  Aquele retrato na parede das aulas de biologia dos macacos caminhando sobre quatro patas, depois sobre duas e então e desenvolvendo-se no Homo erectus – é como tudo aconteceu.

O novo evangelho tem como seus axiomas governantes: não há Deus; não há valores absolutos no universo; o sobrenatural é superstição.  Todas as vidas começam aqui e terminam aqui; seu objetivo é a felicidade humana nesse único mundo que conhecemos.  Cada sociedade estabelece seu código moral própria para seu próprio tempo, e cada homem e mulher têm um direito a fazer o mesmo.  Como a felicidade na vida termina e nós somos seres racionais, nós temos um direito a decidir quando a dor de viver pesa mais que o prazer de viver e a terminar com essa vida, tanto por si mesmos quanto pela assistência da família e médicos.

No domínio moral o primeiro mandamento é "Todos os estilos de vida são iguais."  Amor  e seu concomitante natural, sexo, são saudáveis e bons.  Todas as relações sexuais voluntárias são permissíveis, e todas são moralmente iguais – não é assunto de ninguém, mas próprio, e certamente não é assunto do Estado proibir.  Esse princípio – todos os estilos de vida são iguais – é para ser escrito na lei, e aqueles que se recusarem a respeitar as novas leis devem ser punidos.  Desrespeitar um estilo de vida alternativo mancha alguém como um preconceituoso.  Discriminação contra aqueles que adotam um estilo de vida alternativo é um crime. Homofobia, não homossexualismo, é o mal que deve ser erradicado.

"Tu não julgarás" é o segundo mandamento.  Mas a revolução não é somente julgadora; ela é severa com aqueles que violam seu primeiro mandamento.  Como defender esse aparente duplo padrão?

De acordo com o catecismo da revolução, o antigo código moral Cristão que condena o sexo fora do casamento e sustenta que o homossexualismo seja anti-natural e imoral tem raiz no preconceito, na intolerância bíblica, no dogma religiosa e na tradição bárbara. Esse repressivo e cruel código Cristão foi um impedimento à realização e felicidade, e responsável pela ruína de incontáveis vidas, especialmente aquelas dos gays e lésbicas.

O novo código moral é baseado na razão iluminada e no respeito por todos.  Quando o Estado escreveu o código moral Cristão na lei, ele codificou intolerância.  Mas quando nós escrevemos nosso código moral na lei, avançamos as fronteiras da liberdade e protegemos os direitos das minorias perseguidas.

Um corolário do novo código moral que santifica a liberdade sexual logicamente se segue que os preservativos e o aborto são necessários para prevenir conseqüências indesejadas do amor livre – desde herpes ao HIV, à gravidez – esses devem ser tornados disponíveis a alguém que é sexualmente ativo, desde a quinta-série se necessário for.

Sob o novo catecismo, o uso das escolas públicas para doutrinação de crianças em crenças cristãs é estritamente proibido.  Mas as escolas públicas podem e deveriam ser utilizadas para doutrinar as crianças em uma tolerância de todos os estilos de vida, uma apreciação da liberdade reprodutiva, respeito por todas as culturas, e a desejável diversidade racial, étnica e religiosa.  Nas novas escolas, os dias santos da Páscoa, comemoração da Paixão, Crucifixão e Ressurreição de Cristo estão fora como feriados.  O Dia da Terra, para o qual é ensinado às crianças amarem, preservarem e protegerem a Mãe Terra, é o nosso dia de reparação e reflexão, do qual nenhuma criança está isenta.  O ambientalismo, escreveu o estudioso conservador Robert Nisbet, está "bem no seu caminho de ser a terceiro onda de batalha redentora na história Ocidental, a primeira sendo o Cristianismo, a segunda o socialismo moderno."

A revolução cultural não é a respeito de criar um campo representado por todas as crenças; é a respeito uma nova hegemonia moral. Depois que todas as bíblias, livros, símbolos, mandamentos e feriados forem purgados das escolas públicas, essas escolas deverão ser convertidos em centros de aprendizado da nova religião.  Eis John Dunphy escrevendo com renovada franqueza em 1983 no “The Humanist” a respeito do novo papel das escolas públicas americanas:

A batalha pelo futuro da humanidade deve ser travado e vencido nas salas de aula das escolas públicas por professores que percebam corretamente seu papel como prosélitos de uma nova fé, uma religião da humanidade .... Esses professores devem  expressar a mesma abnegada dedicação dos pregadores fundamentalistas mais radicais, pois eles serão ministros de alguma espécie, utilizando uma sala de aula em vez de um púlpito para conduzir valores humanistas em quais sejam os assuntos que ensinarem .... A sala de aula deve e se tornará uma arena de conflito entre a antiga e o novo - corpo pútrido do Cristianismo, junto com seus males adjacentes e miséria, e a nova fé do humanismo, resplandecente em sua promessa de um mundo em que o ideal ‘do amor ao próximo’ nunca realizado será finalmente atingido.

Na política, a nova fé é globalista e cética do patriotismo, pois um excessivo amor à patria muito freqüentemente conduz à suspeita dos vizinhos e por conseguinte à guerra.  A história das nações é uma história de guerras, e a nova fé planeja um fim às nações.  Apoio para a ONU, ajuda estrangeira, tratados para banir minas terrestres, abolir armas nucleares, punir crimes de Guerra, e perdoar as dívidas das nações pobres são as marcas do homem e da mulher progressistas.  Não importa que uma instituição supranacional seja formada – a Organização Mundial do Comércio, o Protocolo de Kyoto para prevenir o aquecimento global, a nova Corte Criminal Internacional da ONU – a revolução apoiará a transferência de autoridade e soberania das nações para novas instituições de governança global.

"O CÂNCER DA HISTÓRIA DO HOMEM"

Mas uma religião necessita de demônios assim como de anjos.  E muito do que a nova fé ensina é resultante de um ódio ao que ela enxerga como um vergonhoso, mau e delitivo passado.  Para a revolução, a história do Ocidente é um catálogo de crimes – escravidão, genocídio, colonialismo, imperialismo, atrocidades, massacres – cometidos por nações que professavam-se Cristãs.  "A raça branca é o câncer da história do homem", escreveu Susan Sontag, uma mãe natural da revolução, em 1967.

Movendo essa acusação, a revolução tem objetivos completares: aprofundar um senso de culpa para desarmar moralmente e paralisar o Ocidente, e extrair desculpas e reparações incessantes até que a riqueza do Ocidente seja transferida para seus acusadores.  É extorsão moral de proporções épicas, a exploração do milênio.  Se o Ocidente permite aos seus inimigos tenham esse êxito, nós merecemos ser roubados de nossa herança.

A erradicação da idéia de culturas e civilizações superiores é, assim, um assunto de primeira ordem da revolução.

Igualdade é o primeiro princípio.  Quem peca contra a igualdade é extra ecclesiam, fora da igreja.  Na nova revelação, nenhuma religião é superior, nenhuma cultura é superior, nenhuma civilização é superior. Todas são iguais.  É "diversidade" a representação na sociedade de todos os credos, cores e culturas na nação multiétnica e multicultural que nós devemos aspirar e, em súplicas, sermos guiados.

Como a igualdade é seu princípio central, a revolução cultural ensina que os verdadeiros heróis da história não são conquistadores, soldados e estadistas que construíram as nações ocidentais e criaram os grandes impérios, mas aqueles que avançaram a causa mais elevada – a igualdade dos povos.  Assim, o fim da segregação no Sul e do apartheid na África do Sul são triunfos maiores do que a derrota do comunismo, e Mandela e Gandhi são os verdadeiros heróis morais do século XX.  Assim, Martin Luther King sustenta-se no mais elevado panteão Americano, e qualquer estado que recuse desprezar um feriado para celebrar seu nascimento deve ser boicotado.

Como a igualdade é um princípio fundamental, uma democracia de um voto para cada pessoa é a mais elevada forma de governo e somente a verdadeiramente legítima forma.  Ela somente pode ser imposta pela força, como foi sobre a Alemanha e o Japão, e igualmente ao Iraque.  Intervenção militar para interesses nacionais é egoísta e ignóbil, mas intervenção moral que derrama sangue na causa da democracia, como na Somália, Haiti e nos Bálcãs – nada é mais puro.

Através desse padrão, a revolução julga a moralidade das guerras Americanas.  A Guerra de 1812, a Guerra Mexicana-Americana, as Guerras aos Índios, e a Guerra Hispano-Americana podem ter assegurado ao continente um minúsculo custo em vidas, mas essas guerras são poluídas para sempre pelo espírito expansionista e chauvinista da América em seus combates.  E embora a Coréia e o Vietnã fosse combatidos para salvar pequenas nações do assassino comunismo Asiático, elas eram guerras insensatas ou injustas. Pois nós nos aliamos com regimes corruptos e combatemos para manter os países em nosso campo de uma Guerra Fria que nunca teve a claridade moral da guerra contra o fascismo.

E contanto que seja uma "boa guerra", os fins justificam os meios no catecismo da revolução.

Richard Nixon é denunciado pelo "bombardeiro assassino" de Hanói para livrar nossas prisioneiros de Guerra, por bombardear o Vietnã do Norte e, segundo consta, ter matado 1900 pessoas por treze dias. Já, Harry Truman é para sempre um herói, muito embora tenha ordenado o bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki, matando 140.000 civis e por ter enviado 2 milhões de prisioneiros de guerra russos de volta para serem torturados e mortos por Stálin na Operação Keelhaul.

Para a revolução cultural, o inimigo está sempre na Direita, e a revolução não perdoa ou esquece.  Compare a busca impiedosa para a sepultura do General Pinochet, o ditador que esmagou o Castrismo no Chile, com as expressões de aflição com as mortes dos parceiros de Mao, Chou En-lai e Deng Xiaoping.

Como a história demonstra, todos os povos, culturas e civilizações não são iguais.  Alguns atingiram grandeza com freqüência, outras nunca.  Todos os estilos de vida não são iguais.  Todas as religiões não são iguais.

De fato, como a todos os homens são entregues diferentes dons, talentos e virtudes, a única forma de atingir a igualdade de resultados é a tirania. Aqueles que incessantemente revisam testes de aptidão acadêmicos, porque os resultados colidem com seus preconceitos, dão então pontos extras aos estudantes baseado no critério étnico, depois rejeitam os testes porque eles ainda produziram os resultados desejados, são ideólogos sem esperança cujas falsas idéias a respeito da natureza humana nunca sobreviverão a sua primeira colisão com a realidade.

Diga-se mais, um farmacêutico local pode vender preservativos a adolescentes de treze anos, mas venda cigarros aos mesmos e você será perseguido por colocar em risco sua saúde e sua moral.  Livros que proclamam que "Deus está morto", ou que São Paulo era um homossexual, ou que o celibato é defeituoso ou que Pio XII foi o "Papa de Hitler" atrairão análises pela "coragem", "criatividade" e "irreverência."

No século XIX, blasfêmia era um crime em muitos estados.  Hoje, blasfêmia, vulgaridade e obscenidades são aceitáveis, mesmo em horário nobre, mas humor étnico é "discurso de ódio" que deve ser punido severamente.

Eis o espírito militante da ortodoxia modernista.

CRIMES DE ÓDIO

Como qualquer religião, a nova revelação tem seu próprio catálogo de crimes morais.  Os mais odiosos são os "crimes de ódio", agressões motivadas por ódio a uma cor, credo, origem nacional ou orientação [sic] sexual da vítima.

No catecismo da revolução, o assassinato de homossexuais por serem gays, e de negros por serem negros, são os piores crimes, piores até do que abuso infantil seguido de morte.

Carpenter e Brown eram amantes, e o ultimo masturbava-se enquanto Brown sodomizava o garoto.  Mesmo assim, sua tortura e abuso seguido de morte quase não repercutiu na imprensa nacional. Por que? Porque foi um "crime sexual", não um "crime de ódio", e porque mostrar homossexuais em atos de barbarismo sadísticos não se ajusta ao script de vilão e vítima de nossa elite cultural.

Quando o julgamento de Brown foi marcado, o Washington Times era quase o único dos jornais nacionais a reportar o processo. "A discrepância [na cobertura nacional dos assassinatos de Shepard e Dirkhising] não é apenas real", escreveu Andrew Sullivan, um homossexual e colunista da New Republic, "é incrível." Sullivan descobriu trezentas histórias sobre o assassinato de Shepard em uma pesquisa na base de dados Nexis no quinto mês depois do assassinato, mas somente quarenta e seis histórias sobre o assassinato de Jesse Dirkhising. A FOX NEWS foi a única rede de comunicações a reporter o julgamento e condenação do assassino Brown. A grande mídia converteu-se em uma arma de comunicação da revolução.

O menino Jake Robel, de seis anos de idade, morreu de uma forma horrenda.  Enquanto sua mãe Christy foi comer um sanduíche em uma lanchonete, em Independence, Missouri, Jake foi deixado atado no cinto de segurança no banco de trás de seu Chevy Blazer. Christy deixou as chaves na ignição.  Kim Davis, trinta e quarto anos, recém-saído da cadeia, observou-a ir até a lanchonete e pulou no assento do motorista.  Christy Robel correu para resgatar seu filho, abrindo a porta para arrancá-lo.  Davis arrastou o garoto ainda atado ao cinto de segurança.  Christy Robel gritou histericamente para ele parar.  Davis olhou para o banco de trás, então para o espelho retrovisor, e pisou no acelerador, arrastando o garoto por cinco milhas até ser parado por motoristas que reconheceram o corpo do garoto sendo arrastado ao longo da Estrada.  Por que esse crime não ganha atenção nacional? Porque Jake Robel era branco e Davis é negro.  Crimes de ódio são a forma da elite cultural de traçar racialmente um perfil de homens brancos.

Mas essa campanha para codificar certos crimes como "crimes de ódio" não tem nada a ver com justiça e tudo a ver com ideologia.

No catecismo da revolução, os trinta assassinatos de jovens pelo sadista John Wayne Gacy não são qualificados como crimes de ódio, mas tivesse Gacy sido agredido saindo de um bar gay para propor uma “amizade”, ele teria sido qualificado.

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