Friday, July 12, 2019

O mito do colesterol alto

Do livro “O Mito do Colesterol” (Jonny Bowden, Stephen Sinatra, Martins Fontes, São Paulo: 2016)

Acreditamos que estranhas misturas de informações equivocadas, estudos cientificamente questionáveis, ganância corporativa e propaganda enganosa conspiraram para criar um dos mitos mais indestrutíveis e nocivos da história médica: aquele segundo o qual o colesterol é a causa das doenças cardíacas.

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A verdadeira tragédia é que, ao voltar toda a nossa atenção para o colesterol, praticamente ignoramos as verdadeiras causas das doenças cardíacas: a inflamação, a oxidação, o açúcar e o estresse.

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mais da metade das pessoas hospitalizadas por ataque cardíaco têm níveis perfeitamente normais de colesterol, e cerca de metade das pessoas com altos níveis de colesterol têm corações normais e saudáveis.

Muitas das diretrizes dietéticas gerais aceitas e promovidas pelo governo e por grandes organizações de saúde, como a American Heart Association [Associação Norte-Americana do Coração], estão direta ou indiretamente relacionadas com a fobia do colesterol. Essas diretrizes padrão nos advertem a restringir a quantidade de colesterol que ingerimos, apesar do fato de que, para pelo menos 95% da população, o colesterol na alimentação praticamente não exerce nenhum efeito sobre o colesterol no sangue.

Essas diretrizes nos advertem sobre os perigos das gorduras saturadas, apesar de a relação entre gordura saturada na alimentação e  doenças cardíacas nunca ter sido convincentemente demonstrada e a pesquisa mostrar que a substituição da gordura saturada por carboidrato na alimentação na verdade aumenta o risco de doenças do coração.

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E há um número cada vez maior de estudos e relatos médicos demonstrando que os verdadeiros responsáveis pelos danos nas artérias são a oxidação e a inflamação, e que o colesterol é, nessa história toda, pouco mais que um tipo de lipídio inocente ao qual se vinham imputando todas as culpas. A oxidação e a inflamação, ao lado do açúcar e do estresse (retomaremos a abordagem desse tema nos capítulos 4 e 8), eram, sem sombra de dúvida, os maiores responsáveis pelo envelhecimento do corpo. Parecia-me, na época – e hoje parece muito mais –, que esses eram os vilões em que devíamos nos concentrar, e não em uma molécula bastante inocente que é profundamente essencial à saúde humana.

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Descobri que a vida não pode seguir existindo sem o colesterol, uma matéria-prima básica criada pelo fígado, pelo cérebro e por quase todas as células do corpo.

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O cérebro é particularmente rico em colesterol e responde por cerca de um quarto do que dele temos em nosso corpo. A adiposa bainha de mielina que reveste cada célula e fibra dos nervos é formada por mais ou menos um quinto de colesterol. Não surpreende que se tenha encontrado uma conexão entre o colesterol produzido naturalmente e as funções mentais. Os níveis mais baixos são associados a um fraco desempenho cognitivo.

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A maior parte do colesterol do corpo é produzida no fígado, e o restante é absorvido de nossa alimentação. O colesterol é a matéria-prima básica que seu corpo usa para produzir vitamina D; hormônios sexuais, como os estrógenos, a progesterona e a testosterona; e os ácidos biliares necessários à digestão.

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Nem todas as partículas de LDL são iguais. O LDL-A é uma molécula flutuante e esponjosa que não faz nenhum mal, desde que não seja prejudicada pela oxidação (um processo causado pelos radicais livres que permite que o colesterol forme placas). O LDL-B é uma molécula pequena, dura e densa que provoca o surgimento da aterosclerose.

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As gorduras saturadas aumentam o colesterol, mas aumentam muito mais o colesterol HDL geral e a parte boa do colesterol LDL (LDL-A) do que a parte ruim do colesterol LDL (LDL-B). Não há evidências que confirmem uma relação direta entre as gorduras saturadas e as doenças cardíacas.

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O colesterol desempenha um papel relativamente menor nas doenças cardíacas e não é um bom previsor de infartos. Mais da metade das pessoas hospitalizadas por infartos apresenta níveis de colesterol perfeitamente normais.

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É uma história formada por bandidos e mocinhos, por inovadores e conservadores, todos eles engajados em uma batalha que, infelizmente, tem pouco a ver com salvar vidas (ainda que tenha sido essa a sua origem). Envolve quantidades colossais de dinheiro, políticas de publicação, a sociologia da crença (por que as ideias equivocadas continuam a sobreviver mesmo depois da extinção de seu prazo de validade) e o corporativismo entre os conselhos consultivos governamentais e as indústrias que eles supostamente fiscalizam.

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Tudo podia resumir-se a uma questão de imagem e relações públicas: os magnatas do setor agropecuário eram vistos como camelôs de alimentos pouco saudáveis, com “altos índices de gorduras” e “entupidores de artérias”, enquanto os cerealistas eram retratados como os “bons moços” que estavam do lado da ciência, da saúde, da granola e do bem-estar dos norte-americanos. Ricos em carboidratos e com baixo teor de gorduras, os cereais tornaram-se o novo alimento saudável, enquanto as carnes ricas em gorduras foram consideradas um veneno propagado por pecuaristas gananciosos, indiferentes à saúde dos norte-americanos.

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Contudo, os óleos vegetais foram (e são!) agressivamente anunciados como a alternativa saudável às gorduras saturadas, ainda que, em sua maioria, esses óleos sejam altamente processados, favoreçam inflamações e sejam potencialmente danosos quando reutilizados várias vezes, o que constitui  um procedimento padrão em muitos restaurantes.

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A essa altura, porém, as gorduras – e, por extensão, o colesterol – haviam se tornado o novo bicho-papão da dieta norte-americana, só defendidas pelos que haviam apostado alto nelas (por exemplo, as indústrias de laticínios e carne), e os produtos com baixo teor de gorduras haviam se transformado na nova religião das massas.

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Ao contrário da má reputação do colesterol, sem ele nosso corpo simplesmente não pode funcionar. Ele está presente em cada célula e é tão fundamental que, na verdade, a maior parte do colesterol em nosso corpo é produzida por ele mesmo, especificamente pelo fígado, que produz essa substância gordurosa e cerosa precisamente porque ela é essencial para a saúde de nossas células.

O colesterol que você consome tem um efeito mínimo sobre os seus níveis sanguíneos de colesterol, razão pela qual a advertência de consumi-lo menos na dieta e a grande visibilidade gráfica dada à quantidade de colesterol nas informações nutricionais contidas nos alimentos não remetem a nada tão importante quanto somos levados a crer. Se você consumir menos colesterol, seu fígado produzirá mais para compensar a diminuição. Se você o consumir mais, o fígado produzirá menos. O colesterol é básica e copiosamente fabricado no fígado, mas em outras partes do corpo também é produzido em pequenas quantidades. Para todos os efeitos, a “central manufatureira” é o fígado, e é aí que se encontra a resposta ao vaivém “consuma mais/fabrique menos – coma menos/fabrique mais”. O Estudo Cardiológico de Framingham descobriu que a quantidade de colesterol consumida por dia pelas pessoas que desenvolviam doenças cardíacas e pelas que não as desenvolviam praticamente não alterava em nada seu estado de saúde.

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Como já dissemos aqui, o colesterol é a matéria-prima básica que seu corpo transforma em vitamina D, em hormônios sexuais, como o estrógeno, a progesterona e a testosterona e nos ácidos biliares necessários à digestão.

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As empresas farmacêuticas adoram quando os conselhos consultivos – que geralmente estão em conluio com médicos que têm ligações financeiras com a indústria farmacêutica – recomendam que devemos manter níveis cada vez mais baixos de colesterol LDL, pois isso significa um mercado cada vez maior para os medicamentos que baixam o colesterol.

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E agora preste muita atenção: o LDL só se torna um problema para o corpo quando se oxida. Somente o LDL oxidado adere às paredes arteriais, contribuindo para a formação de placas e causando mais inflamação e danos. O LDL não oxidado é muito mais inofensivo. Na verdade, é a oxidação que desencadeia o processo que vai culminar na aterosclerose.

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O fato é que o açúcar é muitíssimo mais prejudicial para o coração do que as gorduras ou o colesterol, mas isso nunca impediu que a indústria alimentícia continuasse aferrada a sua “crença” de que as gorduras e o colesterol devem ser o objeto central de nossas preocupações.

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As gorduras saturadas são muito estáveis. São sólidas – quando expostas a altas temperaturas, não passam por “mutações” nem sofrem “danos” tão facilmente quanto suas primas mais delicadas, as gorduras insaturadas. Esse é um dos motivos pelos quais a banha de porco (com sua alta concentração de ácidos graxos saturados) é, na verdade, uma melhor opção para fazer frituras do que os óleos vegetais processados, mais baratos, que aos poucos a substituíram, a partir do momento em que os restaurantes começaram a tentar se mostrar mais conscientizados sobre a alimentação saudável.

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Quando você os utiliza e reutiliza para fritar, como praticamente todos os restaurantes fazem, eles levam à formação de todos os tipos de compostos nocivos, o que inclui os carcinógenos. Comparados com as gorduras saturadas, os ácidos graxos insaturados dos óleos vegetais são muito mais passíveis de causar lesões, quando submetidos a altas temperaturas, além de mais suscetíveis à oxidação e à produção de radicais livres. Esses óleos vegetais transformam-se em todo tipo de moléculas mutantes sob o estresse de altas temperaturas e de sua reutilização.

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O cérebro depende totalmente do colesterol para seu funcionamento ideal. Embora o cérebro represente apenas cerca de 2% do peso total do corpo, ele contém 25% do colesterol do corpo inteiro. O colesterol é uma parte vital das membranas das células do cérebro e desempenha um papel crucial na transmissão dos neurotransmissores. Sem o colesterol, as células do cérebro não conseguem “conversar” efetivamente entre si, a comunicação celular é prejudicada, e a cognição e a memória são afetadas de modo significativo, geralmente nada positivo!

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Aviso aos pais: agora que vocês entendem esse ponto, o fato de alguns grupos estarem no momento defendendo o uso de estatinas para crianças, cujo cérebro só chega ao pleno desenvolvimento quando a pessoa completa 25 anos, deveria ser tão apavorante para vocês quanto é para nós.

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A grande maioria dos médicos nos Estados Unidos não recebe absolutamente nenhuma formação em nutrição; e os que a recebem são expostos apenas a uma introdução superficial e extremamente rudimentar sobre o assunto. Associe a isso a parcialidade pelos medicamentos patenteados embutida nas faculdades de medicina, e fica fácil ver por que não costuma ocorrer aos médicos pensar em substâncias naturais como ferramentas legítimas que podem ajudar a manter as pessoas saudáveis.

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Quando o governo determinou que as gorduras trans fossem incluídas nas informações nutricionais no rótulo dos alimentos, lobistas do grande setor de alimentos entraram em ação de imediato. Eles de algum modo conseguiram criar uma saída que permite aos fabricantes usar gorduras trans, ao mesmo tempo que nas embalagens afirmam, dentro da legalidade, que o produto “não contém gorduras trans”! É assim que funciona.

Os fabricantes podem informar que o alimento “não contém gorduras trans” desde que haja menos de meio grama delas por porção. Parece razoável, até você se lembrar de como os gigantes do setor de alimentos são espertos e impiedosos. Ao atribuir às “porções” tamanhos ridiculamente pequenos e ao manter as gorduras trans logo abaixo do meio grama por “porção”, eles podem em termos técnicos estar em conformidade com as normas do governo. Mas o resultado é que, se cada “porção” artificialmente pequena contiver, digamos, 0,4 g de gorduras trans, você poderá facilmente consumir um grama ou dois dessas gorduras ao comer não mais do que o que a maioria das pessoas consideraria uma porção “normal”. Faça isso algumas vezes por dia e, antes que você perceba, já terá aumentado seu risco de doença cardíaca por uma boa quantidade de pontos percentuais.

O que fazer? Simples. Ignore o aviso de “sem gorduras trans!” na frente da embalagem e leia, sim, a lista de ingredientes. Não importa o que o rótulo diga, se a lista de ingredientes contiver óleo hidrogenado ou óleo parcialmente hidrogenado, o produto tem gorduras trans. Ponto-final."

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