Do
livro “O Mito do Colesterol” (Jonny Bowden, Stephen Sinatra, Martins Fontes,
São Paulo: 2016)
“Acreditamos
que estranhas misturas de informações equivocadas, estudos cientificamente
questionáveis, ganância corporativa e propaganda enganosa conspiraram para
criar um dos mitos mais indestrutíveis e nocivos da história médica: aquele
segundo o qual o colesterol é a causa das doenças cardíacas.
(...)
A verdadeira
tragédia é que, ao voltar toda a nossa atenção para o colesterol, praticamente
ignoramos as verdadeiras causas das doenças cardíacas: a inflamação, a
oxidação, o açúcar e o estresse.
(...)
mais da
metade das pessoas hospitalizadas por ataque cardíaco têm níveis perfeitamente normais
de colesterol, e cerca de metade das pessoas com altos níveis de colesterol têm
corações normais e saudáveis.
Muitas das
diretrizes dietéticas gerais aceitas e promovidas pelo governo e por grandes
organizações de saúde, como a American Heart Association [Associação
Norte-Americana do Coração], estão direta ou indiretamente relacionadas com a
fobia do colesterol. Essas diretrizes padrão nos advertem a restringir a
quantidade de colesterol que ingerimos, apesar do fato de que, para pelo menos
95% da população, o colesterol na alimentação praticamente não exerce
nenhum efeito sobre o colesterol no sangue.
Essas
diretrizes nos advertem sobre os perigos das gorduras saturadas, apesar de a
relação entre gordura saturada na alimentação e
doenças cardíacas nunca ter sido convincentemente demonstrada e a pesquisa
mostrar que a substituição da gordura saturada por carboidrato na alimentação
na verdade aumenta o risco de doenças do coração.
(...)
E há um
número cada vez maior de estudos e relatos médicos demonstrando que os
verdadeiros responsáveis pelos danos nas artérias são a oxidação e a
inflamação, e que o colesterol é, nessa história toda, pouco mais que um tipo
de lipídio inocente ao qual se vinham imputando todas as culpas. A oxidação e a
inflamação, ao lado do açúcar e do estresse (retomaremos a abordagem desse tema
nos capítulos 4 e 8), eram, sem sombra de dúvida, os maiores responsáveis pelo
envelhecimento do corpo. Parecia-me, na época – e hoje parece muito mais –, que
esses eram os vilões em que devíamos nos concentrar, e não em uma molécula
bastante inocente que é profundamente essencial à saúde humana.
(...)
Descobri que
a vida não pode seguir existindo sem o colesterol, uma matéria-prima básica
criada pelo fígado, pelo cérebro e por quase todas as células do corpo.
(...)
O cérebro é
particularmente rico em colesterol e responde por cerca de um quarto do que
dele temos em nosso corpo. A adiposa bainha de mielina que reveste cada célula
e fibra dos nervos é formada por mais ou menos um quinto de colesterol. Não
surpreende que se tenha encontrado uma conexão entre o colesterol produzido
naturalmente e as funções mentais. Os níveis mais baixos são associados a um
fraco desempenho cognitivo.
(...)
A maior parte
do colesterol do corpo é produzida no fígado, e o restante é absorvido de nossa
alimentação. O colesterol é a matéria-prima básica que seu corpo usa para
produzir vitamina D; hormônios sexuais, como os estrógenos, a progesterona e a
testosterona; e os ácidos biliares necessários à digestão.
(...)
Nem todas as
partículas de LDL são iguais. O LDL-A é uma molécula flutuante e esponjosa que
não faz nenhum mal, desde que não seja prejudicada pela oxidação (um processo
causado pelos radicais livres que permite que o colesterol forme placas). O
LDL-B é uma molécula pequena, dura e densa que provoca o surgimento da aterosclerose.
(...)
As gorduras
saturadas aumentam o colesterol, mas aumentam muito mais o colesterol HDL geral
e a parte boa do colesterol LDL (LDL-A) do que a parte ruim do
colesterol LDL (LDL-B). Não há evidências que confirmem uma relação direta entre
as gorduras saturadas e as doenças cardíacas.
(...)
O colesterol
desempenha um papel relativamente menor nas doenças cardíacas e não é um bom
previsor de infartos. Mais da metade das pessoas hospitalizadas por infartos apresenta
níveis de colesterol perfeitamente normais.
(...)
É uma
história formada por bandidos e mocinhos, por inovadores e conservadores, todos
eles engajados em uma batalha que, infelizmente, tem pouco a ver com salvar
vidas (ainda que tenha sido essa a sua origem). Envolve quantidades colossais
de dinheiro, políticas de publicação, a sociologia da crença (por que as ideias
equivocadas continuam a sobreviver mesmo depois da extinção de seu prazo de
validade) e o corporativismo entre os conselhos consultivos governamentais e as
indústrias que eles supostamente fiscalizam.
(...)
Tudo podia
resumir-se a uma questão de imagem e relações públicas: os magnatas do setor
agropecuário eram vistos como camelôs de alimentos pouco saudáveis, com “altos
índices de gorduras” e “entupidores de artérias”, enquanto os cerealistas eram
retratados como os “bons moços” que estavam do lado da ciência, da saúde, da
granola e do bem-estar dos norte-americanos. Ricos em carboidratos e com baixo
teor de gorduras, os cereais tornaram-se o novo alimento saudável, enquanto as
carnes ricas em gorduras foram consideradas um veneno propagado por pecuaristas
gananciosos, indiferentes à saúde dos norte-americanos.
(...)
Contudo, os óleos
vegetais foram (e são!) agressivamente anunciados como a alternativa saudável
às gorduras saturadas, ainda que, em sua maioria, esses óleos sejam altamente
processados, favoreçam inflamações e sejam potencialmente danosos quando
reutilizados várias vezes, o que constitui
um procedimento padrão em muitos restaurantes.
(...)
A essa
altura, porém, as gorduras – e, por extensão, o colesterol – haviam se tornado
o novo bicho-papão da dieta norte-americana, só defendidas pelos que haviam
apostado alto nelas (por exemplo, as indústrias de laticínios e carne), e os
produtos com baixo teor de gorduras haviam se transformado na nova religião das
massas.
(...)
Ao contrário
da má reputação do colesterol, sem ele nosso corpo simplesmente não pode
funcionar. Ele está presente em cada célula e é tão fundamental que, na
verdade, a maior parte do colesterol em nosso corpo é produzida por ele
mesmo, especificamente pelo fígado, que produz essa substância gordurosa e
cerosa precisamente porque ela é essencial para a saúde de nossas
células.
O colesterol
que você consome tem um efeito mínimo sobre os seus níveis sanguíneos de
colesterol, razão pela qual a advertência de consumi-lo menos na dieta e a
grande visibilidade gráfica dada à quantidade de colesterol nas informações
nutricionais contidas nos alimentos não remetem a nada tão importante quanto
somos levados a crer. Se você consumir menos colesterol, seu fígado
produzirá mais para compensar a diminuição. Se você o consumir mais, o
fígado produzirá menos. O colesterol é básica e copiosamente fabricado no
fígado, mas em outras partes do corpo também é produzido em pequenas
quantidades. Para todos os efeitos, a “central manufatureira” é o fígado, e é
aí que se encontra a resposta ao vaivém “consuma mais/fabrique menos – coma menos/fabrique
mais”. O Estudo Cardiológico de Framingham descobriu que a quantidade de
colesterol consumida por dia pelas pessoas que desenvolviam doenças cardíacas e
pelas que não as desenvolviam praticamente não alterava em nada seu
estado de saúde.
(...)
Como já
dissemos aqui, o colesterol é a matéria-prima básica que seu corpo transforma
em vitamina D, em hormônios sexuais, como o estrógeno, a progesterona e a
testosterona e nos ácidos biliares necessários à digestão.
(...)
As empresas farmacêuticas
adoram quando os conselhos consultivos – que geralmente estão em conluio com
médicos que têm ligações financeiras com a indústria farmacêutica – recomendam
que devemos manter níveis cada vez mais baixos de colesterol LDL, pois isso
significa um mercado cada vez maior para os medicamentos que baixam o
colesterol.
(...)
E agora
preste muita atenção: o LDL só se torna um problema para o corpo quando
se oxida. Somente o LDL oxidado adere às paredes arteriais, contribuindo
para a formação de placas e causando mais inflamação e danos. O LDL não oxidado
é muito mais inofensivo. Na verdade, é a oxidação que desencadeia o processo
que vai culminar na aterosclerose.
(...)
O fato é que
o açúcar é muitíssimo mais prejudicial para o coração do que as gorduras ou o
colesterol, mas isso nunca impediu que a indústria alimentícia continuasse
aferrada a sua “crença” de que as gorduras e o colesterol devem ser o objeto
central de nossas preocupações.
(...)
As gorduras
saturadas são muito estáveis. São sólidas – quando expostas a altas
temperaturas, não passam por “mutações” nem sofrem “danos” tão facilmente
quanto suas primas mais delicadas, as gorduras insaturadas. Esse é um dos
motivos pelos quais a banha de porco (com sua alta concentração de ácidos
graxos saturados) é, na verdade, uma melhor opção para fazer frituras do que os
óleos vegetais processados, mais baratos, que aos poucos a substituíram, a
partir do momento em que os restaurantes começaram a tentar se mostrar mais
conscientizados sobre a alimentação saudável.
(...)
Quando você
os utiliza e reutiliza para fritar, como praticamente todos os restaurantes
fazem, eles levam à formação de todos os tipos de compostos nocivos, o que
inclui os carcinógenos. Comparados com as gorduras saturadas, os ácidos graxos insaturados
dos óleos vegetais são muito mais passíveis de causar lesões, quando submetidos
a altas temperaturas, além de mais suscetíveis à oxidação e à produção de
radicais livres. Esses óleos vegetais transformam-se em todo tipo de moléculas
mutantes sob o estresse de altas temperaturas e de sua reutilização.
(...)
O cérebro
depende totalmente do colesterol para seu funcionamento ideal. Embora o cérebro
represente apenas cerca de 2% do peso total do corpo, ele contém 25% do
colesterol do corpo inteiro. O colesterol é uma parte vital das membranas das
células do cérebro e desempenha um papel crucial na transmissão dos
neurotransmissores. Sem o colesterol, as células do cérebro não conseguem
“conversar” efetivamente entre si, a comunicação celular é prejudicada, e a
cognição e a memória são afetadas de modo significativo, geralmente nada
positivo!
(...)
Aviso aos
pais: agora que vocês entendem esse ponto, o fato de alguns grupos estarem no
momento defendendo o uso de estatinas para crianças, cujo cérebro só chega ao
pleno desenvolvimento quando a pessoa completa 25 anos, deveria ser tão
apavorante para vocês quanto é para nós.
(...)
A grande
maioria dos médicos nos Estados Unidos não recebe absolutamente nenhuma
formação em nutrição; e os que a recebem são expostos apenas a uma introdução
superficial e extremamente rudimentar sobre o assunto. Associe a isso a
parcialidade pelos medicamentos patenteados embutida nas faculdades de
medicina, e fica fácil ver por que não costuma ocorrer aos médicos pensar em substâncias
naturais como ferramentas legítimas que podem ajudar a manter as pessoas
saudáveis.
(...)
Quando o
governo determinou que as gorduras trans fossem incluídas nas informações nutricionais
no rótulo dos alimentos, lobistas do grande setor de alimentos entraram em ação
de imediato. Eles de algum modo conseguiram criar uma saída que permite aos fabricantes
usar gorduras trans, ao mesmo tempo que nas embalagens afirmam, dentro da
legalidade, que o produto “não contém gorduras trans”! É assim que funciona.
Os
fabricantes podem informar que o alimento “não contém gorduras trans” desde que
haja menos de meio grama delas por porção. Parece razoável, até você se lembrar
de como os gigantes do setor de alimentos são espertos e impiedosos. Ao
atribuir às “porções” tamanhos ridiculamente pequenos e ao manter as gorduras
trans logo abaixo do meio grama por “porção”, eles podem em termos técnicos
estar em conformidade com as normas do governo. Mas o resultado é que, se cada
“porção” artificialmente pequena contiver, digamos, 0,4 g de gorduras trans,
você poderá facilmente consumir um grama ou dois dessas gorduras ao comer não
mais do que o que a maioria das pessoas consideraria uma porção “normal”. Faça
isso algumas vezes por dia e, antes que você perceba, já terá aumentado seu
risco de doença cardíaca por uma boa quantidade de pontos percentuais.
O que fazer?
Simples. Ignore o aviso de “sem gorduras trans!” na frente da embalagem e leia,
sim, a lista de ingredientes. Não importa o que o rótulo diga, se a lista de
ingredientes contiver óleo hidrogenado ou óleo parcialmente hidrogenado, o produto
tem gorduras trans. Ponto-final."
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