“Em seu livro
sobre o Messianismo judeu, Gerschom Scholem, confirma bem que os judeus
cabalistas brincam com essa ambivalência para interpretar a lei a sua maneira: «Os
Tikkunei há-Zohar, por exemplo, declaram (tikkun 69): ‘No alto [quer dizer, no
céu] não há mais lei de incesto.’ Uma
outra referência habitualmente citada em apoio dessa crença é Levíticos 20, 17
(texto consagrado quase inteiramente a uma enumeração das transgressões
incestuosas): ‘Se um homem toma por esposa sua irmã, a filha de seu pai ou a
filha de sua mãe, de se vê sua nudez e se vê a cena, é uma abominação.’» E Scholem acrescenta aqui: «A palavra
hebraica empregada aqui para dizer ‘abominação’, hesed, é a mesma que se
encontra habitualmente na Bíblia com o sentido de ternura.»
Gerschom
Scholem que é um dos grandes especialistas judeus da cabala, lembra ainda que
os judeus pertencentes à seita herética dos sabbatianos, adotaram notadamente
como linha de conduta violar sistematicamente todas as proibições da
Torah. No momento de cumprir um mitzva, por exemplo, o judeu piedoso devia pronunciar uma
bendição. Mas, «segundo a nova formulação
messiânica inaugurada pelo próprio Sabbatai Zevi, ele deveria sustentar: ‘Seja
louvado o Eterno, que permite o que é proibido.»
E Scholem
lembra ainda: «O caso mais grave nesse domínio foi aquele de um certo Baruchya
Russo que, por volta de 1700, foi o chefe da ala radical dos sabbatianos de
Salônica.» No tema das «trinta e seis
proibições que são passíveis de castigo de ‘extirpação da alma’», que se
encontram na Torah (Levíticos, 18), escreve ele, «a metade dentre eles
concernindo as proibições relativas ao incesto.
Baruchya não se contenta em declarar essas proibições ab-rogadas, ele
foi até fazer disso que eles proibiam os preceitos positivos da nova Torah
messiânica.»
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