Wednesday, January 02, 2013

O incesto e o judaísmo

Em seu livro sobre o Messianismo judeu, Gerschom Scholem, confirma bem que os judeus cabalistas brincam com essa ambivalência para interpretar a lei a sua maneira: «Os Tikkunei há-Zohar, por exemplo, declaram (tikkun 69): ‘No alto [quer dizer, no céu] não há mais lei de incesto.’  Uma outra referência habitualmente citada em apoio dessa crença é Levíticos 20, 17 (texto consagrado quase inteiramente a uma enumeração das transgressões incestuosas): ‘Se um homem toma por esposa sua irmã, a filha de seu pai ou a filha de sua mãe, de se vê sua nudez e se vê a cena, é uma abominação.’»  E Scholem acrescenta aqui: «A palavra hebraica empregada aqui para dizer ‘abominação’, hesed, é a mesma que se encontra habitualmente na Bíblia com o sentido de ternura.»

Gerschom Scholem que é um dos grandes especialistas judeus da cabala, lembra ainda que os judeus pertencentes à seita herética dos sabbatianos, adotaram notadamente como linha de conduta violar sistematicamente todas as proibições da Torah.  No momento de cumprir um mitzva, por  exemplo, o judeu piedoso devia pronunciar uma bendição.   Mas, «segundo a nova formulação messiânica inaugurada pelo próprio Sabbatai Zevi, ele deveria sustentar: ‘Seja louvado o Eterno, que permite o que é proibido.»

E Scholem lembra ainda: «O caso mais grave nesse domínio foi aquele de um certo Baruchya Russo que, por volta de 1700, foi o chefe da ala radical dos sabbatianos de Salônica.»  No tema das «trinta e seis proibições que são passíveis de castigo de ‘extirpação da alma’», que se encontram na Torah (Levíticos, 18), escreve ele, «a metade dentre eles concernindo as proibições relativas ao incesto.  Baruchya não se contenta em declarar essas proibições ab-rogadas, ele foi até fazer disso que eles proibiam os preceitos positivos da nova Torah messiânica.» 

O que presta então a uma interpretação equívoca na casa dos judeus talmúdicos, é afirmado de maneira bastante clara na casa dos judeus sabbatianos, dos quais os hassidim são os herdeiros."

(“Psychanalyse du Judaïsme”, Hervé Ryssen, Éditions Baskerville, 2006, pp. 348-349)

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