Tuesday, June 21, 2005

Maioria ou minoria: questão de bom senso

AAS

Os dicionários de citações são utilíssimos para um jornalista em apuros, pois permitem rapidamente -- e facilmente -- escrever sobre qualquer assunto que, de outro modo, requereria pesquisa e estudo demorados.

São também de leitura atraente para qualquer pessoa. Num dia de chuva, na convalescença de uma gripe, na hora de dormir, nada mais agradável do que abrir, ao acaso, um dicionário desses e percorrer, despreocupadamente, o que sobre os vários assuntos disseram ou escreveram os mais variados autores de todos os tempos.

Caiu-me nas mãos um excelente dicionário desses, o "Dicionário Universal Nova Fronteira de Citações", de Paulo Rónai, húngaro radicado no Brasil desde os anos 30. Muito ao acaso me pus a folheá-lo e dei logo num verbete que me chamou a atenção: Maioria.

"Não devemos de forma alguma preocupar-nos com o que diz a maioria, mas apenas com a opinião dos que têm conhecimento do justo e do injusto, e com a própria Verdade" -- aconselhava Platão no século IV A.C.

"Não há nada mais repugnante que a maioria, pois ela se compõe de uns poucos antecessores enérgicos; de velhacos que se acomodam; de fracos que se assimilam; e da massa que se arrasta atrás sem saber nem de longe o que ela quer" -- escreveu Goethe.

Um contemporâneo e conterrâneo seu, Schiller, depôs no mesmo sentido, nos seguintes versos:

"Que é a maioria? A maioria é tolice.
O bom senso sempre tem sido de poucos.
Convém pesar os votos, e não contá-los."

Já mais recentemente, Anatole France exprimiu a mesma verdade: "Uma tolice repetida por 36 milhões de bocas nem por isso deixa de ser uma tolice; as maiorias quase sempre demonstraram uma grande vocação para se deixarem escravizar".

A Sagrada Escritura preveniu contra o perigo de se deixar levar pelas maiorias irracionais: "Não seguirás a multidão para fazer o mal, nem te unirás ao parecer do maior número para te desviares da verdade" -- diz o Livro do Êxodo (23,2).

E, para concluir com uma nota bem portuguesa (esta não tirada de Paulo Rónai), aqui vão alguns versos do Padre Carlos Rademaker, extraídos de um poema que ele compôs em 1864, a respeito da partida da frota de Vasco da Gama da praia de Belém:

"Quatro naus empavezadas
Se viam aqui surgir;
E na praia mil abraços
Aos fortes que vão partir.
É de Deus a voz que os chama:
Lá vão com Vasco da Gama
Cento e setenta, não mais...
Cento e setenta só vejo!
Que importa? São de sobejo;
Não busques quantos, mais quais!"

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