Saturday, June 25, 2005

Regime coreano usa cobaias humanas em experiências

Regime comunista usa famílias de prisioneiros como cobaias em experiências em câmaras de gás

Antony Barnett

The Guardian

LONDRES - No Nordeste remoto da Coréia do Norte, perto da fronteira com China e Rússia, fica Haengyong. Escondida nas montanhas, é a sede do Campo 22, o maior campo de concentração do país, onde milhares de homens, mulheres e crianças acusadas de crimes políticos são mantidos presos.

Ali também é o local onde milhares de detentos morrem a cada ano e onde os guardas da prisão fazem marcas nos pescoços dos bebês que nascem para matá-los depois. No ano passado, atormentados relatos trazidos por desertores norte-coreanos detalharam as execuções e torturas e revelaram que as paredes do Campo 22 escondem um segredo ainda mais terrível: câmaras de gás onde horripilantes experimentos químicos são conduzidos tendo seres humanos como cobaias.

Testemunhas contam como assistiram a famílias inteiras serem postas em câmaras de vidro e envenenadas com gases. Agonizavam enquanto cientistas tomavam notas. Os relatos oferecem o mais chocante retrato do regime do ditador Kim Jong Il.

Kwon Hyuk, cujo nome foi trocado, é um ex-adido militar na embaixada da Coréia do Norte em Pequim. Ele também foi o chefe administrativo do Campo 22. Em um documentário exibido ontem pela BBC, Hyuk diz que é preciso que o mundo saiba o que acontece.

- Assisti à morte de uma dessas famílias. Pais, um filho e uma filha. Os mais velhos vomitavam e agonizavam. No último momento, tentaram salvar as crianças, fazendo respiração boca a boca - revela ele.

Hyuk desenhou para a reportagem um diagrama detalhado da câmara de gás:

- O vidro é selado. Ela mede 3,5m de largura, 3m de comprimento e 2,2m de altura. Um tubo entra pela parede. Normalmente eles colocam as famílias no centro e prisioneiros individualmente sentados nos cantos. O processo e as reações são acompanhados por cientistas do alto, pelo vidro - conta, dizendo que acreditava que tal atrocidade fosse justificada.

- Na época eu sentia que aquelas pessoas mereceram. Todos nós fomos levados a crer que as coisas ruins que acontecem na Coréia do Norte eram culpa delas, por isso nós éramos pobres, divididos e não conseguíamos progredir. O oficial vai mais longe:

- Seria mentira dizer que sentia pena de ver crianças sendo mortas de forma tão dolorosa. No regime em que vivia, apenas sentia que ali estava o inimigo - diz, sendo confirmado por Soon Ok-Lee, que esteve no Campo 22 por sete anos.

- Um oficial ordenou que selecionasse 50 mulheres saudáveis. Um guarda me deu um cesto cheio de repolho cozido e me disse para não comer. Mandou que eu desse o material às mulheres. Ouvi quando começaram a gritar. Todas vomitavam sangue e se debatiam de dor. Um inferno. Em 20 minutos estavam mortas - contou.

Desertores contrabandearam documentos que revelam como eram metódicos os experimentos. Um, com o carimbo ''Top Secret'' é datado de fevereiro de 2002: ''A pessoa acima está sendo transferida para o campo 22 para participar das experiências em humanos com gases e armas químicas''. O nome da vítima era Lin Hun-hwa, 39 anos. Kim Sang-hun, um ativista norte-coreano dos direitos humanos, atesta sua legitimidade:

- O texto tem o formato usado pelo governo, a qualidade do papel é a mesma e há selos legítimos das agências envolvidas na experiência. Também traz nomes, locais e datas.
O número de prisioneiros nos campos norte-coreanos gira em torno de 200 mil pessoas, distribuídas em 12 centros. O Campo 22 abriga 50 mil prisioneiros, a maioria porque parentes criticaram o regime. Muitos são cristãos, religião que o ditador Kim Jong-il tem como ameaça ao seu poder. Por isso, ele não prende só o dissidente mas as três gerações da família, de forma a eliminar até a raiz do que chama de ''sangue ruim e sementes da dissensão''.

Com a Coréia do Norte tentando obter concessões a partir do seu retorno ao programa nuclear, cresce a pressão pela questão dos Direitos Humanos. Richard Spring, porta voz do Partido Conservador britânico, de oposição, pressiona a Câmara para debater o tema. Para Mervyn Thomas, da ONG Christian Solidarity Worldwide, não era sem tempo:

- Por muito tempo o sofrimento do povo norte-coreano, especialmente os presos nesses bárbaros campos, foi deixado em silêncio. É imperativo que a comunidade internacional não continue de olhos fechados às atrocidades que devem pesar em sua consciência - concluiu.

[02/FEV/2004]

JB

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